O Homem do Café Vacilante
apareceu outra vez nos meus sonhos com a sua Unha Verde
com o seu cartão de crédito com a sua legião de pais contra o aborto
vinha vestido como os príncipes da Banca com um mau fato caro
e uns óculos de professor pobre e uns sapatos pouco usados
de quem anda sempre de carro O Homem do Café Vacilante
ficou do lado de fora de uma Carteira Branca
e eu que sou naturalmente fraco disse-lhe bom dia e como está entre e sente-se
quando o que me apetecia era dar-lhe um bom murro nas ventas
e mandá-lo a voar para o seu país de chipados
E ele sentou-se cruzou a perna e desenroscou a cabeça
e dentro tinha Arcebispos e mais cartões de crédito
e uma pequenas chaminés por onde saíam e entravam as formigas trabalhadoras
e mesmo uma luva de Mário de Saa - Carneyro
Eu não queria conversa nenhuma queria o meu cavalo e ir-me embora
assobiei e o meu cavalo veio, coxo, magro, esquelético
fumando um roscoff de uma lista que me pareceu telefónica mas com bocas
lá dentro cosidas em cada número
ah! pensei a verdadeira imagem de Savonarola
mas não era mais do que uma lista com bocas cosidas lá dentro
Hé - o inconsciente é rico disse o Homem do Café Vacilante
e meteu-se ainda mais dentro do meu sonho com uma mangueira curta e azul
Disse não tenhas medo e eu tive um medo cósmico como se ao alto à esquerda e à direita e em baixo só houvesse um abismo negro
tive medo de cair mas era inútil já
estava a cair nas quatro direcções ao mesmo tempo
e nas quatro estava lúcido não como um deus, mas como um rato, um rato lúcido
e pensava agora com uma estranha calma no fundo fui sempre um rato lúcido
a cair sem fim pelo universo
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