SERMÃO AOS PINGUINS DO COMANDANTE CHARCOT
Irmãos Pinguins, desgraçadamente faço parte de uma Seita Aniquiladora e Extincionista, chamada Humanidade. Há milénios que andamos a perseguir e matar ou pôr na prisão todos os que não são nossos semelhantes e mesmo os que o são. Temos a Paranóia que somos os donos do planeta, os deuses da terra, e que os animais como vocês são "produtos" dos quais podemos dispôr como quisermos, quando quisermos, sem entraves outros que os da concorrência.
As nossas cidades não são como as vossas, em que se vêem todas as espécies de bichos voadores, terrestres e submarinos. Não podemos ir para onde podemos e queremos e para onde queremos e podemos ir tudo se paga. Temos umas Casas muito altas e feias chamadas Parlamentos, Câmaras e Ministérios onde os mais feios e mais agressivos da nossa espécie estão sempre a discutir a melhor maneira de nos carregar de impostos e de outras algemas, cadeias e correntes, se bem que sejam de plástico como o dinheiro plástico.
Como somos pelados, temos que andar vestidos e lutamos para andar melhor vestidos do que os outros. De facto, tranferimos o ser para o vestuário, e hoje sem nunca nos revestir do que somos, somos o que vestimos e ainda por cima não nos fica bem.
Nus somos horrorosos, e temos vergonha que nos vejam assim, vestidos somos ridículos e cheiramos mal. As nossas mentes fedem porque só pensamos em dinheiro, em juros, em novos prazeres e em como escapar à morte. Não somos capazes de prazeres simples. Os mais ricos de nós estão sempre a juntar mais dinheiro porque tem sempre medo de ter pouco e não ser suficiente. Todos nós desejamos o dinheiro, e todos temos medo quer quando o temos, de perdê-lo, quer quando não o temos, porque do modo como estão as coisas nada podemos fazer sem ele. E a nossa vida com ou sem dinheiro é sempre feia, porque o dinheiro não compra a liberdade nem a beleza, nem a alma nem a imaginação.
Este meu sermão no fundo não se destina a vocês, mas é feito para vocês, para que saibam que talvez um dia vocês nos ensinem a vossa vida simples e dura, o esforço que fizeram para manter os vossos territórios tão puros e brilhantes, o modo como os vossos olham brilham com o simoun secreto do Sul, a maneira como protegem os vossos filhos até â morte, se for preciso, e como vocês são capazes de nada comer durante meses.
Eu gostava que este sentimento do Pólo, que se explica como o sentimento da imensidão e da maravilha gelada e viva das coisas, e que talvez encontre um poiso temporário nesta frase "O gelo arde" pelo menos chegasse a alguns de nós que pensam que seria bom vivermos numa árvore, ter uma vaca em casa como queria o Cesariny (que desenhou um elevador para a sua vaca poder descer ao rés do chão sempre que quisesse) e encontrar alguins animais selvagens à solta nas nossas cidades, que parecem metáforas de um sonho de xanax, com ruas pasteurizadas e gente sonâmbula que divaga como autómatos tão incapazes de aceder à verdadeira vida e à verdadeira morte, que por isso vivem falsas vidas e morrem de falsas mortes, prolixas, todas iguais, que nem os vive nem os mata e assim ficam como larvas astrais, tépidas, nem mortas nem vivas, como a indústria, o dinheiro, o petróleo, as assistentes sociais, as irmãs de caridade, as diversas polícias integradas ou por integrar, o último ditador, os padres da república e os totós da modernidade.
Fotografia do Comandante Charcot no Pólo Sul.
Pode citar, copiar, reproduzir este texto desde que refira o autor deste blog e autor do texto.
As nossas cidades não são como as vossas, em que se vêem todas as espécies de bichos voadores, terrestres e submarinos. Não podemos ir para onde podemos e queremos e para onde queremos e podemos ir tudo se paga. Temos umas Casas muito altas e feias chamadas Parlamentos, Câmaras e Ministérios onde os mais feios e mais agressivos da nossa espécie estão sempre a discutir a melhor maneira de nos carregar de impostos e de outras algemas, cadeias e correntes, se bem que sejam de plástico como o dinheiro plástico.
Como somos pelados, temos que andar vestidos e lutamos para andar melhor vestidos do que os outros. De facto, tranferimos o ser para o vestuário, e hoje sem nunca nos revestir do que somos, somos o que vestimos e ainda por cima não nos fica bem.
Nus somos horrorosos, e temos vergonha que nos vejam assim, vestidos somos ridículos e cheiramos mal. As nossas mentes fedem porque só pensamos em dinheiro, em juros, em novos prazeres e em como escapar à morte. Não somos capazes de prazeres simples. Os mais ricos de nós estão sempre a juntar mais dinheiro porque tem sempre medo de ter pouco e não ser suficiente. Todos nós desejamos o dinheiro, e todos temos medo quer quando o temos, de perdê-lo, quer quando não o temos, porque do modo como estão as coisas nada podemos fazer sem ele. E a nossa vida com ou sem dinheiro é sempre feia, porque o dinheiro não compra a liberdade nem a beleza, nem a alma nem a imaginação.
Este meu sermão no fundo não se destina a vocês, mas é feito para vocês, para que saibam que talvez um dia vocês nos ensinem a vossa vida simples e dura, o esforço que fizeram para manter os vossos territórios tão puros e brilhantes, o modo como os vossos olham brilham com o simoun secreto do Sul, a maneira como protegem os vossos filhos até â morte, se for preciso, e como vocês são capazes de nada comer durante meses.
Eu gostava que este sentimento do Pólo, que se explica como o sentimento da imensidão e da maravilha gelada e viva das coisas, e que talvez encontre um poiso temporário nesta frase "O gelo arde" pelo menos chegasse a alguns de nós que pensam que seria bom vivermos numa árvore, ter uma vaca em casa como queria o Cesariny (que desenhou um elevador para a sua vaca poder descer ao rés do chão sempre que quisesse) e encontrar alguins animais selvagens à solta nas nossas cidades, que parecem metáforas de um sonho de xanax, com ruas pasteurizadas e gente sonâmbula que divaga como autómatos tão incapazes de aceder à verdadeira vida e à verdadeira morte, que por isso vivem falsas vidas e morrem de falsas mortes, prolixas, todas iguais, que nem os vive nem os mata e assim ficam como larvas astrais, tépidas, nem mortas nem vivas, como a indústria, o dinheiro, o petróleo, as assistentes sociais, as irmãs de caridade, as diversas polícias integradas ou por integrar, o último ditador, os padres da república e os totós da modernidade.
Fotografia do Comandante Charcot no Pólo Sul.
Pode citar, copiar, reproduzir este texto desde que refira o autor deste blog e autor do texto.
2 Comments:
Ora aqui está um artigo brilhante, divertido e caústico. Felizente a blogosfera tem revelado alguns cronistas a que não teríamos acesso de outra forma, devido a esta mania da imprensa viver encostada a quem já tem visibilidade. Parabéns e continue!
Obrigado Mariposa, vindas de si, que além de nos proporcionar uma pintura muito original tem as excelentes "Crónicas de Uma Lisboeta na Lua" no blog "Quando o Rei Era Sabão", as suas palavras são mesmo um bom estímulo.
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