/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: AUTOEGOGRAFIA

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

LES PRIVILÉGES DE SISYPHE - SISYPHUS'PRIVILEGES - LOS PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO - 風想像力 CONTRA CONTRE AGAINST MODERNISM Gegen Modernität CONTRA LA MODERNITÁ E FALSO CAVIARE SAIAM DA AUTOESTRADA FLY WITH WHOMEVER YOU CAN SORTEZ DE LA QUEUE Contra Tudo : De la Musique Avant Toute Chose: le Retour de la Poèsie comme Seule Connaissance ou La Solitude Extréme du Dandy Ibérique - Ensaios de uma Altermodernidade すべてに対して

2007-04-19

AUTOEGOGRAFIA


não nasci em Portugal, nasci dentro de mim na avenida da liberdade, à hora do chá . Tinha por tutores dois anúncios luminosos que a IV República já retirou e um pirata do ar em estado gasoso, com aura anexa. Entretanto o texto didascálico do socialismo já fazia mossa: vinha em janela de alumínio e em avental. Mas eu olhava para o mar. Há sempre uma Cova de Vapores em cima do Bugio.

Não fui a correr para o escritório, porque eu sou um escritor lento depois da indústria cristã do carvão e do aço. Esconder, portanto, a pata de fauno. Eu estou sempre a escrever, tenho essa respiração. Um sangue composto de plurais.

nessa altura o anjo propôs-me a Torre de Avicenna, mas eu recusei. Troco cada Torre por um Uivo. A bem dizer usos e costumes da Terra primitiva. Ele/a compreendeu. os Tronos e Dominações sobem-nos, sabem-nos. Fazem suas todas as nossas amarras. Nunca mais nos largam como um crocodilo.

Entrei de coração ao avesso na Brasileira, que é um dos pontos aleph de Lisboa a fenícia, a etrusca, a grega - a cidade dos Dois Ulisses: o irlandês e o outro lui-même. Escondi claramente a equação dos chacras iguais a colinas, sete séries de cada.

Pedi uma sardinha ao empregado. veio empertigada ao lado de uma bica suavíssima. Trotei ipsilons só de aspirar. reparei em todos os quadros do tecto. Misturei-me em boa verdade aos aromas perfeitos do café dos heterónimos e reparei num livro que dizia:

Empresta o teu chapéu às sereias!

Eu posso com o entusiasmo dos lamelibrânquios. E assim dilato os deltóides. Mas se o Evaristo trouxer o seu Cavalo das Rimas e o Augustinho o seu Conta-lágrimas, então por Bofé, digo que Lisboa é uma cidade falsamente caiada que privilegia o ornamental
e para todo o sempre cultiva o inacessível em jogos de estuque.

Desde então não parei mais de andar. Subo aos anúncios luminosos e pergunto aos anjos: foi aqui que vocês esconderam a minha massa hialina? (Aprovo a arte do desaparecimento). E uma não resposta é tão excelente como uma resposta às gaivotas. Por isso teorizo com frequência sobre as melhores composições do silêncio.

Silenciária, chamei à melhor sibila, não necessariamente a mais anã, a mais divertida, a mais bela no céu da boca, mas a mais composta de um puro vazio no tocante a sons. Já demócrito o atomista por aqui andara. Por isso deixemos as sandálias em cima do anúncio da Coca-Cola, a arder, as sandálias leves dos gerúndios rotundos.

Quando a pessoa sai de uma cidade moderna onde grassa a peste do verbo, sabe que lhe resta a parte clara e a parte obscura, uma lucidez oceânica e barroca. Como pescar um Oráculo então torna-se um exercício supervivente. São tantos os estilos de fugir de um supermercado, de retirar o anel do poste da EMEL.

E o rio numa confusão de jeans perde-se na boca das hienas do cais. Ah sim, continua a haver belos perigos nas cidades osmóticas. falemos de sósias do asfalto. Do esqueleto desossado por mau bagaço. Há mais literatura na medula do que se julga, e o cerebelo é um Avaliador suspicaz. Tenho esta teoria da cidade toda em orgãos, cada um deles em marcha, apesar da legião dos demónios postos a circular pelos éditos camarários.

Há uma semana ouvi alguém a dizer. Não me perdi, foi Portugal que me perdeu. Tirei cópia dos seus óculos e deitei-os ao largo de mim.