PORTUGUESE FATE
sou um nauta sem barco, entre um solo sísmico e o mar que desaparece atrás de uma cortina de prédios: atiro-me ao submarino do vinho tinto.
E o polvo da gerência aperta-me entre os seus braços caiados e resplandescentes, porque me quer todo em tinta negra como um carapau chupado, como um poeta.
é certo que nunca dei rosas como as sereias, nem vi os nibelungos no metro como o Fassbinder, mas mereço tão azelha destino?
que fiz eu aos deuses da vinha, que não disse eu aos guardas pelicanos, que botas não lambi, a que pénis não me abandonei?
O sol corre-me à chapada, na lua não encontro asilo, o arco-iris estrangula-me e o tropel dos meus irmãos faunos passa a correr por cima de mim decepando-me as mãos e a alma.
E eu tinha um alambique de girassóis e eram meus dois ciprestes na Via de Santiago.
Que fiz eu aos magos etruscos do poente? Abro as cinco torneiras dos meus sentidos e paralizo-me com a própria cicuta que eu inventei
mas depois ligo-me à manhã eléctrica e canto o mar dentro do mar
e a minha voz é negra como uma pérola esplêndida e fatal
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