A INFÂMIA UNIVERSAL DAS MARCAS
Do lado da minha mãe venho de uma família de megalatifundiários: entre outras coisas, nos seus vastos domínios onde eram reis e senhores, marcavam o gado com ferros. Cada coudelaria, cada ganadaria fazia gala nos seus ferros. Era uma outra espécie de escudo de armas. Todo o gado marcado era nosso. Não havia mistura possível. As vacas, os cavalos, os touros eram "ferrados". Pas de confusion. Originais nossos, para todo o sempre.
Na antiguidade marcavam-se os escravos e também se marcava - com o ferrete da ignomínia - quem se quisesse condenar para todo o sempre à vileza, ao ostracismo.
No nosso tempo as pessoas correm atrás das marcas, para se automarcarem, demarcarem. A crise de identidade é tanta que as pessoas para. pelo menos. terem uma identidade artificial usam com o maior gosto roupas de marca. Uma identidade, mesmo artifical, sempre é melhor do que o vazio de não ter nenhuma.
Mas continua a haver uma homologia estrutural - e estruturante - com as marcas que se punham no gado. Há mesmo um comportamento de gado nas massas humanas desejosas de aparecerem marcadas com as marcas da sua preferência, que na sua opinião os destacam, isolam, ascendem na nova Vanity Fair.
A massificação, que vulgariza e trivializa, por outro lado, produz grandes desejos ascencionais nas próprias massas. A marca, o sinal distintivo é a testemunha exuberante da distinção. Sair do inerte, do conglomerado trivializante, faz-se pela plétora de marcas que se exibem.
A palavra "marca" já desde há uns tempos passou para as narrativas da modernidade deste nosso socialismo versátil e primário. O primeiro ministro, quando toma medidas que ele na sua candura julga serem grandes, fala de "deixar marcas" na história. No fundo, foi sempre esta a ambição totalitária - transformar a face das coisas, deixar marcas. Há uma pavoneamento semântico, uma retórica do sinal e do signo que o quer piramidal, "marcante", duradouro, ameaçando eternizar-se.
O contrário da leveza, o peso. Mas havia um faisão chinês, muito apreciado pelos poetas, que não deixava pégadas ao andar.
Na antiguidade marcavam-se os escravos e também se marcava - com o ferrete da ignomínia - quem se quisesse condenar para todo o sempre à vileza, ao ostracismo.
No nosso tempo as pessoas correm atrás das marcas, para se automarcarem, demarcarem. A crise de identidade é tanta que as pessoas para. pelo menos. terem uma identidade artificial usam com o maior gosto roupas de marca. Uma identidade, mesmo artifical, sempre é melhor do que o vazio de não ter nenhuma.
Mas continua a haver uma homologia estrutural - e estruturante - com as marcas que se punham no gado. Há mesmo um comportamento de gado nas massas humanas desejosas de aparecerem marcadas com as marcas da sua preferência, que na sua opinião os destacam, isolam, ascendem na nova Vanity Fair.
A massificação, que vulgariza e trivializa, por outro lado, produz grandes desejos ascencionais nas próprias massas. A marca, o sinal distintivo é a testemunha exuberante da distinção. Sair do inerte, do conglomerado trivializante, faz-se pela plétora de marcas que se exibem.
A palavra "marca" já desde há uns tempos passou para as narrativas da modernidade deste nosso socialismo versátil e primário. O primeiro ministro, quando toma medidas que ele na sua candura julga serem grandes, fala de "deixar marcas" na história. No fundo, foi sempre esta a ambição totalitária - transformar a face das coisas, deixar marcas. Há uma pavoneamento semântico, uma retórica do sinal e do signo que o quer piramidal, "marcante", duradouro, ameaçando eternizar-se.
O contrário da leveza, o peso. Mas havia um faisão chinês, muito apreciado pelos poetas, que não deixava pégadas ao andar.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home