/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

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2009-03-24

Para Lady S como agradecimento por me ter lido poemas numa noite calma:

que bom que nenhuma política desenhada me sirva
a mim leal aos faunos que não me são leais

abomino os hospitais e os operários da saúde
eu morri, todos estão vivos
todos morreram, eu estou vivo

ando a pé no novo Portugal barato
e acho que o socialismo é uma regra de escravos
mas eu fujo dele como fugirei da sua antítese
já não me interessam para nada os meus semelhantes
a não ser por se assemelharem ao nada que são e reproduzem

O Papa, a Diana, o Delors, o Dalai Lama
nunca gostei de causas
sempre pensei que o fatalismo é uma operação algébrica belíssima
e que está tudo perdido de antemão
sobetudo quando vamos no carro do vencedor e chega
a voz calma depois da razão que nos diz que tudo é silêncio e névoa
e não há campeões

agora os entusiasmos operários, que seca
o mundo trabalhou demais e sempre no sentido errado
os patrões são operários gordos e furiosos
e os operários são futuros patrões deterministas
o universo das fábricas é uma bolha de sabão que as estrelas sopram e esquecem
eu outrora vi a beleza dos lunares
e a dos poetas que descem por escadas das rosas mais complicadas

outrora seduzia-me a lista telefónica tão labirintica como Delos
e perdia-me amando as vozes da multidão que me eram mais desiguais
e a beleza metafísica dos bilhetes de eléctrico caídos no chão
também amava, crendo-me sombra, as sombras
porque são leves e macias e desaparecem
ao contrário dos impérios que duram sempre
até que acabam como se nada tivesse acontecido

como se entre as pálpebras de um deus e de outro
tivesse corrido uma lágrima de fogo que só brilha para si mesma

mas hoje em que falsamente cheguei ao centro do vazio que sou
falsamente ergo uma taça sem dor nem triunfo
a todos os seres que eu vi e contestei: eia medíocres com talento
e karls jaspers que viviam entre planetas gasosos e facturas de gás por pagar
eia peixotos do sentimento colectivo, e marias llansols das seitas com rosa endémica e assinatura de Nossa Senhora dos Dissidentes por debaixo
eia ena hoje é dia de peixes assimétricos e de novenas

ah meus operários da bola aos saltos erguendo a taça
já não me irrita o riso canino das multidões símias excitadas
nem penso em Lavoisier ao ver as baronesas que caem das nuvens
à tarde, quando estico a minha perna libertina
entre o esplendor das magnólias

pois sim tenho enviado corvos capazes fazer o ninho
nas perrucas dos juízes do supremo
eu o Mimo Transcendental, eu o Operário do vazio,
o Fabricante de nuvens em forma de perna artificial
tenho estragado veementes postais da agustina
e o que é a literatura a mais do que um postal
mal escrito e entregue na data errrada a uma mão antiga
que cai dos altos , decepada?

divaguemos, pois na noite calma
entregue aos espelhos do rouxinol que nunca morre
que bom a noite imensa e toda apagada depois do dia nulo, improdutivo,
absolutamente inútil entre as glicínias
enquanto o anjo do mal e das flores requebra a linha do horizonte
com o seu charuto de che guevara entalado nas coxas

que doce a noite que nos leva ao lado mais nenhum do além onde nada existe
a não ser ópios e transmigrações de cores por entre os paraísos abandonados
de Budas e pastores de povos

sentado sobre a minha cadeira que é um rio que flui
agora nada me pertence, tudo é meu como nos sonhos
que são a única verdade que deixamos fugindo feita vento do vento
e por isso sou a noite e todo o seu concâvo convexo deslize e artifício
e estendo a mão anelada de estrelas para nenhum beijo
e deixo que a solidão como uma musa se enrole sete vezes
sobre algo de mim que é promontório antes e depois dos deuses
e que acaba verso vago, de que não se ouve senão um rumor branco