PRAÇAS (Restauradores)
aqui suicidaram-se
400 voyeurs
e cinco heróis da independência
sniff levaram um tiro
certinho entre os dois olhos
mas depois passam eléctricos
e repúblicas por cima
as repúblicas do verde ao vermelho
são sempre um bocado amarelas
no meio da praça há um monumento
que deita a lingua de fora aos nómadas
a minha língua: a de ninguém, a tua a de toda a gente
e enquanto o homem de fraque insiste que é Jorge-Luis Borges
eu Calígula trago-lhe um cavalo
há que ter compaixão pelos loucos não é verdade?
Há que saber montá-los em belos corcéis azuis com asas
e entregá-los ao cérebro das cidades
os lampiões, os anúncios a publicidade demente
a gente que anda escondida dentro dos sapatos
e a outra que passa de viés num ângulo raso com o poente
preocupada em ser fantasma antes do tempo de o ser
convenientemente
ouáh ouáh a mulher que olha as montras nos olhos
e depois arranca um seio do decote
e o morde diante de toda gente
também já viveu aqui e vive aqui
e vai~se atirar do quinto andar de um hotel
que é sempre mais chique cair na vertical
da varanda de um hotel onde há principes
e grandes chulos de luvas brancas e mulheres
que sabem deslizar sobre estolas de peles
maginficamente nuas cobertas de charutos
eu pelo menos gosto do luxo das cidades agnáticas
das cidades brancas cheias de monhés solícitos
que vendem sedas impensáveis e no sorriso trazem
escadarias de pérolas e coisas miríficas das índias
s
memso que sejam as Índias albdrabadas depois do império
Oh grandes mentiras da humanidade eu hoje amo-vos
com uma exactidão que me lembra quadros do Kandsinsky
(depois de provar um vinho temperado com datura, naturalmente)
e de ter fugido do curso de teosofia
eu hoje estou a andar na praça dos restauradores
e há dez anos que não uso as calças jeans desta era de gente igualóide
com um trapézio na tromba comprado na candonga
e interceptado por um a raiozinho de sol em segunda ou terceira mão
porque isto de astros anda tudo falido
Pumba. despencou fachada abaixo o que eu julgo ser um anão
de jardim, com cara de fauno entre-parenteses,
ue belo o sangue anémico que deixa, qual baba de caracol dos Andes,
daqueles que devagarinho comem as montanhas mais altas
e depois dizem que é espirais e labirintos e que sei eu de mundos
cícilcos onde todos nós somos sempre o outro, que nos ignora,
desorientado, o pobre, porque tem mais que fazer que saber que também
é nós mesmos, noutro ângulo, noutra passagem estrita ou literal, ou mesmo transliteral
como a daqueles filósofos da linguagem que
de tanto se transformar em linguagem perderam a carne , o sexo e a metonímia.
Entretanto cantam as buzinas (em vez dos galos)
e o ronco dos motores não imita o tropel dos cavalos
mas sabemos que haverá mortos mais logo quando a nossa barriga acústica e visual
for ver televisão e então se transformará num aquário
cheio de peixes idiotas e estupefactos
iguais aos leitores dos tablóides, mas em mais prata
Mas que digo ? eu não digo nada, deixo que as coisas me digam
eu nem sequer sei falar como um Racine
e ó Rimbauds da mamã, invejo os manguitos do pintor Soutine!
Portanto as coisas na sua algarviada matutina
feita de cantos de sereia colados nos collants das bailarinas
emudecem-se - ou tentam - umas às outras - e depois devoram-se
num misto de cruel alegria e de indiferença colorida
que talvez agrade aos deuses e aos desertores
e a todos os que tem um olho irritado com as coisas de hoje
e o envesgam e o atiçam e o fazem disparar outros venenos mais subtis
que a velocidade
E oh praças assim olhadas! vós suspendei-vos dos solecismos
e ficais abreviadas ou obrigadas a mergulhar no rio
antes do tsunami morno do crepúsculo e dos cantos
dos mil ardinas escorraçados pela sardinha
Etiquetas: Praça dos Restaradores. La Plus Belle Place du Monde, Restauradores Square, Square Your Mind and Throw it out
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