No Pais dos Liliputos 1
Tal como nos faltou ter um Homero mas tivemos um Luís Vaz de Camões, não tivemos um Jonathan Swift mas tivemos o incomparável Bordalo. Homero compendiou o modelo grego de herói, Luíz Vaz traduziu para português e cristão esse modelo. Swift descobriu o filão do humor negro, e para resolver o problema da fome na Irlanda propôs que se comessem as criancinhas. Bordalo propõs uma panaceia social universal: o manguito, executado a primor pelo seu famoso personagem, o espertissimo, mariola, pai de todos os chicos-espertos - O Zé, o Seu Zé.
O personagem que Bordalo proporia para a direita horrorizada com o aborto, deixamo-lo à vossa imaginação. Não menos do que a personagem que ele proporia para a esquerda bem pensante. Duas seitas políticas que adoram confrontar-se, e que secretamente precisam uma da outra. E que adoram igualmente abortar-se uma à outra, sendo esse seu passatempo promovido regularmente a espectáculo por uns medias carentes, esmaecidos, enfardados de publicidade, submissos aos "dictum" dos grupos económicos que os possuem.
Swift em Portugal, com a crise de desemprego galopante, os chineses do alentejo a raptar cães para pôr no arroz (não é metáfora, acontece aqui perto, na área de Sines), os romenos e o sem abrigo a fazer fila nos supermercado à hora H, em que a comida "fora de prazo" é com pudor posta à porta, já se vê que avançaria para uma solução mais radical. Depois de demonstrar que as criancinhas viáveis da Casa Pia são comidas por uma incompreensível e invisível legião de altas personagens (o que demonstra sobretudo o desemprego maior nacional, o desemprego sexual ou se se preferir o desnorte do emprego sexual) proporia que se comessem os fetos. Chocante? Não menos do que o avanço desnorteado de mortes na estrada e os bulldozers dos empreiteiros demolindo os últimos fragmentos de paisagem preservada.
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