ET IN ARCADIA EGO
este chão de manicómio que são os meus poemas,
coberto de vómito, de sangue, de uivos e raivas,
um dia foi nuvem e garça, bebeu na taça dos deuses,
e coroado de besouros e de lama azul
entrou nos rios junto ao ouro das sibilas
e agora com palavras de castelos perdidos
este chão encontra os seus declives
e a rouca montanha
por onde saltam os ferozes amanhãs
e nele me ergo sobre os meus ossos furados
crivados pelas balas dos progressivos nevoeiros da era
eu sustento o enigma e a maravilha
fujo entre o voo dos abutres
fugitivo da própria fuga
levando comigo o grito das galáxias rebeladas
e o meu nome chama os grilos
bebemos todos os venenos
estamos altíssimos
por nós vela o tigre do universo
na fronte temos inscritos
todos os nomes de perigo
não há bala que não tenha sido feita
com a minha lama
(Pintura de Courbet)
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