HAM! BURGUER
Os franceses escrevem Poutine para dizer Putine, doutra forma soaria putinha. E nós que dizemos Amburguer, e atiramos o H aspirado de hamburger à valeta mantemos o Putin em estado puro. Claro que Putin em português é matéria prima para mil e um trocadilhos, que a Razão de Estado não previu, e que os Véus do Estado não conseguem esconder. Entre nós, sem ser ao Sétimo Dia, um Putim novo nasceu, sem o púdico "ou" gaulês e assim o supremo homem das Rússias, que tem um misto de cára de poker e cara de anjo vegetariano, o ex-KGB, não escapa à chalaça tão nossa, e diga-se tão necessária diante de gente que face ao contraditório diz "eu fico atónito" ou "eu fico estupefacto" como o Eduardo de Sá Veludo. (recentemente esteve em veludo ao vivo no Prós e Contras. ) Entre nós o Putin é putinha à partida e nunca mais, nem à lei da bala, poderá provar o contrário.
Mas voltemos à vaca fria e comecemos para emigrar para essa palavra tão omnipresente como Putine, tão global como o futebol e o telemóvel. Notemos ainda, antes de virarmos de bordo, que Poutine rima com terrine, e não com trottoir. Por outro lado, amburguer traz dentro e atrás de si, para o ouvido fino e atento à compressão de significados, uma declaração de princípios.
Am (sou) burguer = Sou burguês.
De facto, é dificil imaginar comida mais burguesa do que um amburguer: tudo nele tende para o redondo, o indiferenciado. O pão redondo do amburguer não requer força na maxila, é mole. É o contrário de pão duro em casa de pobreta ou forreta. O bife do amburguer vem todo picado. Pode-se comer a dormir, pode-se comer com distracção, não tem nada de rijo. Pao mole e bife mole fundem-se na mesma argamassa da mesma ordem social. É inócuo, sem deixar de ser imperativo. Reproduz a máxima discrição. A discretíssima classe da burguesia tem aqui a comida mais discreta para o dente que se pode imaginar. Resguarda o precato e contido silêncio que distingue o burguês do proleta e do animal ao comer, garante silenciosidade e não se trabalha a comer. Com o amburguer, de facto os dentes não tem trabalho quase nenhum. No fundo, bem considerada a sua forma e consistência trata-se de uma Hóstia-Papa, come-se sem esforço, escorrega já feito bolo alimentar pelo esófago abaixo. Chega em rolamentos ao estômago onde não dá trabalho e mais tarde, passados aqueles metros todos de intestino grosso e delgado, é expelido plácida e práticamente na mesma forma em que entrou, salvo alguns detalhes na cor e no cheiro.
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