HIPERHAIKAIS DAS CIDADES QUE NOS AGUARDAM
1. Todos dormem debaixo de sacos de plástico do supermercado
depois acordam vagos e flácidos
e assoam-se ao telemóvel
2. Nesta manhã e nesta cidade
os anjos estão muito velhos e sai-lhes fibrocimento diante
de todos os espelhos
3. Já só se lêem poemas a velhas latas enormes e ferrugentas
cheias de alfabetos desavindos com as algas
e os novos cabeças-de-bolor
4. aqui por fim os gatos caminham dentro e fora dos parênteses
e fizeram uma avenida rim e outra cérebro
depois de ter bebido todo o rio
5. como as palavras estavam todas estouradas e os rostos
modificados, era num ninho de relâmpagos
que estavam guardadas as duas últimas sílabas (ou sibilas)
6. o ângulo de entrada num livro queimado leva-nos a Kzzz a última
dos Dourados que há cento e cinquenta anos
sonda as cinzas da linguagem
7. depois de em vão termos dado (e sobretudo bebido) todo o vinho do Graal
havia duas árvores ainda: uma dentro de um esqueleto
outra a principiar a romper o arco de cimento que substituíra o céu por inteiro
8. (o poeta fusilado pelas suas sombras desfaz-se
por entre as cores da aurora e, depois, de chapéu de palha e fato
de linho branco vai beber o arco-iris por uma palhinha)
Imagem pilhada no site do Museu de Metrologia (que se recomenda) : medidor de chapéus (para cabeças em fuga?)
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