VIRAR DE ROSA
de querer tanto o tempo
de ver rosas quando tomava banho
tenho tanto visto os rios indiferentes
com os seus mortos e o seu mau olhado
rios quase mortos
pelos humanos tristes e sem sentido terrestre
destes tempos assassinados
que não sei se me enganei de vida
ou de corpo ou de tempo ou de rio
e entretanto lá vens tu com os teus espelhos
como num comboio dos anos trinta
em que deitavas sátrapas pela janela fora
e tinhas um olhar noivo dos cumes
e um modo de andar parecido ao das nuvens brancas
devemos nalgum ponto ter-mo-nos enganado
não imperialmente mas de modo fosco
e límbico, com os pinhais atenuados cada vez mais
pela língua negra das fábricas
e sem nenhum anjo, de gola levantada perigosamente
a incitar-nos aos obstáculos úteis
e aos grandes desaguares em estuários
cobertos dos cisnes negros do canto
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