PSICOFOTOGRAFIA DO ARTISTA QUANDO CÃO DO IMPÉRIO
Vivemos diante de praias muito compridas, mas morremos em esplanadas, talvez porque diante do mar que nos chama sempre pusemos uma muralha de copos.
Quando António Sérgio quis ser o novo Sebastião assassinou o mito do Rei-Perdido- Que-Um-Dia-Voltará. Mas D. Sebastião não era mais parvo do que António Sérgio, e apesar dos seus inúmeros defeitos tinha mais encanto.
Um bom escritor não faz mais do que ceder o lugar aos seus livros, ou seja, desaparece constantemente.
Quando alguém me diz que eu poderia ter escrito isso (uma coisa qualquer que eu escrevi) eu sinto o mesmo. Eu poderia ter escrito aquilo que escrevi.
Em Portugal há palavras lindíssimas como alguém.
Porque não fujo deste país? Por três razões: um som maravilhoso da língua - falamos quase em silêncio, um clima feito para chutar nas veias, e uma culinária que é ao mesmo tempo hedonista e maternal.
Um escritor tem que ter o seu Alcácer-Quibir e saber perder-se do último livro que escreveu.
As pessoas queixam-se da falta de memória histórica da actual geração. Mas eu acho que as gerações históricas tem muito osso e pouco sangue.
O Eusébio adoece com gravidade e o Estado e a comunicação social preocupa-se. O António Lobo Antunes adoece com muito mais gravidade e o Estado e a comunicação social ficam na mesma. E o António vale pelo menos cem Eusébios.
O António Dacosta falava tão baixinho que se ouvia tudo o que ele dizia. Aprendi mais a vê-lo lavar pacientemente os pincéis com uma mangueira do que a ler Kant. O Dacosta tinha conseguido falar como respirava.
O Mário Cesariny ria com todos os ossos, até o fumo do cigarro lhe saía a rir.
A ideia obssessiva de todos os governos é transformar a linha da costa desde a Ponta de Sagres até Vila Praia de Âncora numa esplanada contínua. O id secreto por detrás disto? Estamos sempre à espera do regresso das naus.
Só nos podemos aproximar de nós mesmos de modo labirintico, por meio de alusões, de figuras veladas, de símbolos, de mitos, de metáforas. Não há autoestradas para o ser interior. Por isso nenhum ministro das Obras Públicas consegue coincidir com o modo secreto de ser português.
A modernidade é de facto o que menos existe em Portugal, uma seita de modernistas não tem nada a ver com ser absolutamente moderno.
Na Grécia antiga as mulheres grávidas iam ver estátuas de grande beleza para terem filhos belos. Em Portugal não sei quem vão ver porque não há dúvida que saímos muito mal no tocante à beleza.
Charles Baudelaire ao visitar Lisboa no século XIX ficou impressionado por não ver nem árvores nem jardins na cidade de Lisboa. Foi ele que chamou a Lisboa: a cidade branca. Não há notícia dele ter vistado o Alentejo onde teria visto inúmeras cidades brancas.
Quando António Sérgio quis ser o novo Sebastião assassinou o mito do Rei-Perdido- Que-Um-Dia-Voltará. Mas D. Sebastião não era mais parvo do que António Sérgio, e apesar dos seus inúmeros defeitos tinha mais encanto.
Um bom escritor não faz mais do que ceder o lugar aos seus livros, ou seja, desaparece constantemente.
Quando alguém me diz que eu poderia ter escrito isso (uma coisa qualquer que eu escrevi) eu sinto o mesmo. Eu poderia ter escrito aquilo que escrevi.
Em Portugal há palavras lindíssimas como alguém.
Porque não fujo deste país? Por três razões: um som maravilhoso da língua - falamos quase em silêncio, um clima feito para chutar nas veias, e uma culinária que é ao mesmo tempo hedonista e maternal.
Um escritor tem que ter o seu Alcácer-Quibir e saber perder-se do último livro que escreveu.
As pessoas queixam-se da falta de memória histórica da actual geração. Mas eu acho que as gerações históricas tem muito osso e pouco sangue.
O Eusébio adoece com gravidade e o Estado e a comunicação social preocupa-se. O António Lobo Antunes adoece com muito mais gravidade e o Estado e a comunicação social ficam na mesma. E o António vale pelo menos cem Eusébios.
O António Dacosta falava tão baixinho que se ouvia tudo o que ele dizia. Aprendi mais a vê-lo lavar pacientemente os pincéis com uma mangueira do que a ler Kant. O Dacosta tinha conseguido falar como respirava.
O Mário Cesariny ria com todos os ossos, até o fumo do cigarro lhe saía a rir.
A ideia obssessiva de todos os governos é transformar a linha da costa desde a Ponta de Sagres até Vila Praia de Âncora numa esplanada contínua. O id secreto por detrás disto? Estamos sempre à espera do regresso das naus.
Só nos podemos aproximar de nós mesmos de modo labirintico, por meio de alusões, de figuras veladas, de símbolos, de mitos, de metáforas. Não há autoestradas para o ser interior. Por isso nenhum ministro das Obras Públicas consegue coincidir com o modo secreto de ser português.
A modernidade é de facto o que menos existe em Portugal, uma seita de modernistas não tem nada a ver com ser absolutamente moderno.
Na Grécia antiga as mulheres grávidas iam ver estátuas de grande beleza para terem filhos belos. Em Portugal não sei quem vão ver porque não há dúvida que saímos muito mal no tocante à beleza.
Charles Baudelaire ao visitar Lisboa no século XIX ficou impressionado por não ver nem árvores nem jardins na cidade de Lisboa. Foi ele que chamou a Lisboa: a cidade branca. Não há notícia dele ter vistado o Alentejo onde teria visto inúmeras cidades brancas.
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