CIDADES
as cidades de um deus único prezam desfiles militares e monolitos, as sem deus entregam-se a todos os desvarios e abrem janelas a mais nos prédios e nos crânios. As que atrevidamente trocaram os deuses por anúncios luminosos pagam muito mais impostos e estão cheias de gente com insónias opacas e persistentes. As cidades de demasiados deuses menores são impossíveis ao crepúsculo e ficam abarrotadas de milagres pequenos na alba, género pássaros a sair pela torneira da água, e serpentes etruscas a habitar as lâmpadas.
Há muitas cidades actualmente só de ratos, embora tenham uma aura humana como camuflagem. Outras são vermiurbanas: criam os novos vermes que governam e concentram. Entretanto as escolas imolam os cérebros mais promissores, depois de os dobrar quatro vezes para os meter dentro do mal e do bem.
2 Comments:
Muito inspiradores os seus contos brevíssimos. A minha mulher chinesa manda-lhe um de presente:
"Apesar das patifarias e da vilaneza, o homem mantinha aquele sorriso macio dos traidores. Era leve, e essa leveza resultava de no lugar dos colhões possuir duas rolhas secas."
Abraços Ó.
Caro Ó,
Muito obrigado. E agradeça e dê os parabéns à sua mulher porque adorei o seu brevíssimo conto.
Miguel
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