SINES
O sol de Vasco da Gama fusila-nos lentamente, perdemos a alma de viajante. Milhões de anões - os nossos sonhos - deixaram de nos levar ao longe: não há mais longe, não há mais além - o mundo cabe no ecrã do telemóvel. As vozes vincadas dos professores explicaram tudo.
mas - transfiramos a morte da paisagem. No tempo das chaminés despóticas, é bom pensar em asas corsárias, em grandes quedas da indústria, numa erosão de asfaltos. O desejo descobrirá as suas garras em falésias afundadas, onde não chega o som das massas distraídas e ávidas de verão.
Este escarlate fugir da humanidade, ou de tudo o que a recorde...os crânios calosos, de repente sem números, a amnésia das estatísticas. Um movimento da águia ao longe pode levar-nos àquele ponto vélico: virar de mundos-
SINES II
Hóspede persuasivo do tinteiro
nem homem nem deus o poeta arrasta
a sua casca. Os ventos assistem-no,
trazem-lhe chamas novas onde
a criança verde lambe as suas feridas
entretanto luminosa irmã depois das feridas da literatura
pendurada do som atroz das asas de albatrozes uma ode foge
SINES III
mar para perder metamorfoses inúteis!
Saúde das sombras brilhantes dos peixes dos grandes fundos!
todas as vidas quotidianas estão loucas
os grandes petroleiros cada vez mais frequentes
ao duro amor não trazem senão sombras de escama
ah mas que importa olharei com os meus olhos imprevidentes
grandes fugas de pássaros a sotavento
mesmo que na areia as minhas pégadas se cruzem com a dos almirantes
uma bela blasfémia nova curvará
um certo ricto da boca, uma cólera pirata, um gosto
a desobediência com um forte cheiro a alga
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