ANTES DE TOMAR A MINHA DOSE DE MANDRÁGORA E DE PERFÍDIA
Nada mais miserável do que a linguagem, que criou os deuses e o Deus e o mundo técnico que os substitituiu entretanto, sem grande proveito.
Mais perigoso ainda do que compreender, é julgar que se compreende. O que cultiva a primeira atitude é essa espécie de vigarista respeitável, o sábio ou filósofo, o segundo é o homem compreensivo, que merece todos os pares de cornos que há no mundo, mas que não deixa de estar nos altares tanto dos ateus como dos católicos.
A primeira palavra criada deve ter sido uma tentativa de dizer um insulto ou uma obscenidade.
Nos tempos de grande ateísmo dá-me grande prazer ser religioso, e ligar todas as coisas pela base, pela única base que tem as coisas: o desejo.
Tenho visto a facilidade com que as pessoas com convicções se tornam coléricas, e confundem a cólera e o desdém com conhecimento.
Os objectivos? Arruinam a inspiração.
Um país cheio de objectivos é um país cheio de pálas nos olhos.
As pessoas que não escrevem repetem-se a si mesmas sem o saber. Por isso o mundo está cheio de homens previsíveis que se dedicam à mais banal das artes: a da previsão.
Uma prudência furiosa é o que mais se encontra nos tesoureiros, nos homens das finanças, e noutra gente igualmente abjecta que põe cara de sábio e tromba de filósofo.
Um país que fosse governado por um doido varrido não seria mais feliz, mas certamente teria mais fantasia. O pior são os doidos medianos que julgam que nos governam.
Só se pode transcender o mundo com mais mundo, ou seja ajudando a soltar o Uivo Universal de todas as coisas e assim torná-las lobas.
O daimon interior de cada homem está nos nossos dias num singular estado de ruína, mas se se lhe mostrasse por exemplo a coisa mais filosófica de todas: a casca de uma banana, como se veriam ruir as legiões de sofistas e de professores de bem dizer e de bem estar.
A superstição do positivo - a das bombas da Galp que nos dizem "tenha um dia positivo", isto depois de nos ter subtraído do bolso uns preciosos euros - reina nos nossos dias.
Prefiro um demónio descrente de si mesmo a um ateu convicto.
O homem que não adere ao seu daimon é um deus em demolição e o que segue um Chefe, um traste.
Um escritor é aquele que repele a sua voz interior e chama de todos os lados das coisas pelo silêncio do Ser.
Desdenhar os seus contemporâneos é um passo muito útil para quem não quer que as brigadas do Insecto Colectivo, os escuteiros, os diversos sistemas de bombeiros do pensamento, e os enfermeiros das metáforas sociais ou ideológicas lhe tolham o passo.
Os tiranos começam por afastar os Grandes negadores para se rodear dos pequenos.
Os pequenos tiranos de que este país está cheio são utilíssimos para as grandes touradas do pensamento.
1 Comments:
ó homem, que você me arruina o optimismo não tem dúvida, e tão certeiramente que fico quase num estado de ser-em-obras? de estaleiro? ou de quem levou uma espadeirada na altura, comprimento e largura da minha esperança?
Seja como fôr daqui, esperando que isto nçao lhe soe pessimista demais, o optimista saúda o pessimista
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