ESCREVEMOS LIBERDADE
Este poema é uma homenagem ao poema de Paul Éluard, Liberté, do qual pretende ser uma versão contemporânea nos novos tempos de servidão e trevas que atravessamos.
Em blogs evasivos
em pedaços de areia
que ficam entre zonas de lixo
entre indecisos subúrbios
à luz de estrelas mortiças
à luz do haxe e do luar
escrevemos o teu nome
liberdade
em linhas desactivadas
de comboios sem asas
em arrabaldes anónimos
onde cresce a erva ruim
e onde as gatas vão parir
os últimos gatos semi-selvagens
escrevemos o teu nome
liberdade
nas zonas do cais
que ainda não são turísticas
nos vãos das pontes
nas arcadas gastas
dos violoncelos quebrados
nas cadeiras atiradas fora
escrevemos o teu nome
liberdade
nos cinemas vazios
cujas paredes ruíram
nos muros que vedam
o murmúrio do mar
na nuvem suja de poeira
na nuvem de poeira
escrevemos o teu nome
liberdade
nos corredores abandonados
nas minas sem gente
nas praias poluídas
no rosto do fumo
e nos lábios do ozono
nos bordéis flutuantes
e nos cães perdidos
escrevemos o teu nome
liberdade
nas azas da mosca
que caga na hóstia
na cara da estátua
da República vendida
no rosto inane
do socialismo eterno
nos peidos dos presos
escrevemos o teu nome
liberdade
na seara queimada
no poço afundado
no perfume do asfalto
na complicada agonia
do país do cimento
nas fugas de pássaros
no rosto aberto
dos órfãos com pais
escrevemos o teu nome
liberdade
na muralha de semáforos
nos anúncios rasgados
nas chagas dos mendigos
falsas ou verdadeiras
no pús do crepúsculo
na gangrena das rosas
na lepra dos beijos
proibidos e nas dos fomentados
escrevemos o teu nome
liberdade
nos sapatos rotos
nas cartas mal escritas
dos emigrantes
nas pragas vãs
dos malditos
na cera dos ouvidos
dos mendigos altivos
na manhã universal
escrevemos o teu nome
liberdade
nos jornais atirados ao rio
nos poemas que nunca
ninguém leu ou lerá
nas biliotecas queimadas
na floresta desaparecida
no silêncio sangrento
do exílio dos deuses
e das dríadas
escrevemos o teu nome
liberdade
porque nós nascemos
para te disseminar
por toda a parte
Liberdade
Em blogs evasivos
em pedaços de areia
que ficam entre zonas de lixo
entre indecisos subúrbios
à luz de estrelas mortiças
à luz do haxe e do luar
escrevemos o teu nome
liberdade
em linhas desactivadas
de comboios sem asas
em arrabaldes anónimos
onde cresce a erva ruim
e onde as gatas vão parir
os últimos gatos semi-selvagens
escrevemos o teu nome
liberdade
nas zonas do cais
que ainda não são turísticas
nos vãos das pontes
nas arcadas gastas
dos violoncelos quebrados
nas cadeiras atiradas fora
escrevemos o teu nome
liberdade
nos cinemas vazios
cujas paredes ruíram
nos muros que vedam
o murmúrio do mar
na nuvem suja de poeira
na nuvem de poeira
escrevemos o teu nome
liberdade
nos corredores abandonados
nas minas sem gente
nas praias poluídas
no rosto do fumo
e nos lábios do ozono
nos bordéis flutuantes
e nos cães perdidos
escrevemos o teu nome
liberdade
nas azas da mosca
que caga na hóstia
na cara da estátua
da República vendida
no rosto inane
do socialismo eterno
nos peidos dos presos
escrevemos o teu nome
liberdade
na seara queimada
no poço afundado
no perfume do asfalto
na complicada agonia
do país do cimento
nas fugas de pássaros
no rosto aberto
dos órfãos com pais
escrevemos o teu nome
liberdade
na muralha de semáforos
nos anúncios rasgados
nas chagas dos mendigos
falsas ou verdadeiras
no pús do crepúsculo
na gangrena das rosas
na lepra dos beijos
proibidos e nas dos fomentados
escrevemos o teu nome
liberdade
nos sapatos rotos
nas cartas mal escritas
dos emigrantes
nas pragas vãs
dos malditos
na cera dos ouvidos
dos mendigos altivos
na manhã universal
escrevemos o teu nome
liberdade
nos jornais atirados ao rio
nos poemas que nunca
ninguém leu ou lerá
nas biliotecas queimadas
na floresta desaparecida
no silêncio sangrento
do exílio dos deuses
e das dríadas
escrevemos o teu nome
liberdade
porque nós nascemos
para te disseminar
por toda a parte
Liberdade
Etiquetas: FREEDOM, LIBERDADE, LIBERTÉ, NEW FREEDOM, NOUVELLE LIBERTÉ, NOVA LIBERDADE
1 Comments:
Parabéns caro Drummond!
Temos tudo menos liberdade, de resto fugimos dela, mete medo, não é?
Vivemos toda a vida condicionados e já nem sabemos o que é ser livre!
Deve ser por isso que os pássaros e os gatos e outros animais mais livres fogem de nós. Safa!!!
Abraço do Ó.
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