melusina
Gabriel Garcia Marquez diz que há contos que estão contidos no título, e que talvez não fosse necessário contá-los, e cita como exemplo o título de um conto seu que não chegou a escrever "El Ahogado que Enseñaba a Bailar" (O Afogado que ensinava a bailar) -
Ora bem, Melusina casara com o Conde de Lusignan mas dissera-lhe para ele nunca a tentar ver quando ela, aos sábados, tomasse banho. (Não entremos agora nas conotações de sábado/ sabbath). O marido, ardendo de curiosidade, no entanto transgride o seu pedido. Espreita plebeiamente pela fechadura.
Esta imagem sugere também um duplo afogamento: o da aparência sobretudo
Aqui neste caso, Melusina, a fada, ao tomar banho sofria uma retromorfose. Semidissolvida no elemento iniciático que é a água perdia parte do seu corpo humano. Demonstrava que não somos sólidos. Porém este conhecimento da nossa não solidez é aterrador. Nem o seu marido e meu antepassado, o conde de Lusignan estava preparado para enfrentá-lo. Por isso, após esta espiadela marital, Melusina, ao dar-se conta dela, sai a voar pela janela. Há segredos femininos que tem que ser invioláveis. O homem não é senhor das retro e metamorfoses da sua mulher- a liberdade é demasiado sagrada para estar sujeita a senhorio.
Voltando aos títulos polissémicos do GGB. A mim parece-me haver uma certa "homologia estrutural" entre o conto brevíssimo "El Ahogado que enseñaba a bailar" e a irrupção da cauda de sereia surpreendida no banho pelo olhar indiscreto. Mas a pergunta interessante que fica a pairar é "Como será a dança de Melusina?"
1 Comments:
Só pode ser muito sedutora!
Grande Drummond, caramba, estive de férias tempo demais, tempo demais sem ler a sua prosa sempre melhor do que tudo o encontro na imprensa.
Saudades da minha chinesinha que nunca espreitei no banho, mas que adoro ver aparecer renascida em alvura e graça.
Abraço forte,
Ó
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