Bombeiros
Hoje estive numa cerimónia oficial em Portugal e não estavam lá bombeiros, de modo que entrei em dissonância cognitiva. Pensei com terror e alívio que estava noutro país, a ouvir toda a gente a falar em português, mas sem nenhum bombeiro, fardado, em sentido, a conferir realidade a tudo aquilo. Mas cadé os bombeiros? perguntava a secção do meu lobo cerebral esquerdo, o que procura segurança e confirmacões da realidade habitual em toda a parte. Teria eu partido para a terceira atenção? Que coisa mais horrível, estar em Portugal numa cerimónia e não ver um só bombeiro. Quem me teria tirado o cimento mais sólido que estrutura a realidade das minhas convicções? - o bombeiro.
Vítima de um tardio e indescolável complexo de Édipo, perguntei, com muita delicadeza, a uma senhora à minha frente se ela por acaso não trabalhava nos bombeiros. Nunca vi um olhar tão agudo e tão snob perfurar-me. Ficou ofuscada e indignada só de pensar que eu pudesse ter suspeitado que ela era dos bombeiros. Os olhares de desdém perfurante, pelo menos para mim que sou meio feito de cartão e de imenso papel mal colado, são verdadeiros black and deckers. Esburacam-me, de facto e de jure, e lá perco eu litradas de linfa verde e cerveja diluída
Ao ver-se molhada de linfa verde e cerveja diluída a senhora gritou um palavrão horrível e disse: chamem a polícia. E apontava-me um dedo a tremer. Eu que não tenho nenhuma culpa de ser feito de papel e cartão ainda tentei dizer com boas maneiras que fora ela com aquele olhar pefurante, a causadora daquele género de dilúvio minimalista e involuntário, bem entendido impróprio para aquele lugar e circunstâncias, porém a senhora com ar impositivo de quem sabe sempre o que quer, ao sentir que estava com água (enfim com linfa verde e cerveja) pelos tornozelos gritou:
Chamem os bombeiros!
Senti que afinal havia sentido e simetria. Finalmente estávamos de volta a um país moderno e sem assimetrias. Abracei comovido a senhora e juntei a minha voz a dela
Sim chamem os bombeiros, por favor, E muitos.
Evidentemente a cerimónia ficou interrompida, mas tive o prazer de daí a uns tempos ver aparecer aqueles seres admiráveis sem os quais o país não avança.
Vítima de um tardio e indescolável complexo de Édipo, perguntei, com muita delicadeza, a uma senhora à minha frente se ela por acaso não trabalhava nos bombeiros. Nunca vi um olhar tão agudo e tão snob perfurar-me. Ficou ofuscada e indignada só de pensar que eu pudesse ter suspeitado que ela era dos bombeiros. Os olhares de desdém perfurante, pelo menos para mim que sou meio feito de cartão e de imenso papel mal colado, são verdadeiros black and deckers. Esburacam-me, de facto e de jure, e lá perco eu litradas de linfa verde e cerveja diluída
Ao ver-se molhada de linfa verde e cerveja diluída a senhora gritou um palavrão horrível e disse: chamem a polícia. E apontava-me um dedo a tremer. Eu que não tenho nenhuma culpa de ser feito de papel e cartão ainda tentei dizer com boas maneiras que fora ela com aquele olhar pefurante, a causadora daquele género de dilúvio minimalista e involuntário, bem entendido impróprio para aquele lugar e circunstâncias, porém a senhora com ar impositivo de quem sabe sempre o que quer, ao sentir que estava com água (enfim com linfa verde e cerveja) pelos tornozelos gritou:
Chamem os bombeiros!
Senti que afinal havia sentido e simetria. Finalmente estávamos de volta a um país moderno e sem assimetrias. Abracei comovido a senhora e juntei a minha voz a dela
Sim chamem os bombeiros, por favor, E muitos.
Evidentemente a cerimónia ficou interrompida, mas tive o prazer de daí a uns tempos ver aparecer aqueles seres admiráveis sem os quais o país não avança.
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