EPÍSTOLA AOS APÁTICOS
Olhem para mim, sou baixote, gaguejo, tenho dívidas como um preto, cago uma vez por dia, mijo dez vezes, acordo feito um perfeito idiota, rastejo para a cozinha em estado cataléptico, faço um café digno de um sepultado e digo-vos_
saio para a rua, vejo gente ensonada a sair de prédios ensonados, carros ensonados a andar por estradas ensonadas e polícias ensonados a coçar as bolas cansadas, enquanto semáforos vegetativos e mecânicos chupam a tinta do carro ensonado
depois chegam os jornais - cheiram a charuto velho, a whysky, a Verdade requentada com Pé - lêem-se como se já tivessem sido deitados fora, fica-se a saber tudo sobre o mundo
está irremediável, o director deve, o futebolista deve, o moralista deve, o bispo deve . cristo está na página do fim, esborrachado, com as suas asas de borboleta cimentadas
na minha garagem vejo carros bocejantes à minha espera, bocejo bom dia para eles, os carros são os únicos que ainda falam, depois chegam os donos deles a apitar, dizem uma série de coisas apitadas, trazem as esposas que lhes apitam umas coisas, enquanto os filhos andam à roda dos automóveis a apitar
nice world, apesar de tudo a erva cresce entre as pedras da calçada, os cães coçam-se, o sol brilha
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