FINGIDOURO DO POETA
A CONSTRUÇÃO de um Fingidouro obedece às mesmas regras das de um Miradouro. Deve-se localizar num ponto alto, com um panorama envolvente notável, e não ter volumes à frente. Além de ter bancos para namorar e ler os autores patafísicos, e uma boa luneta para cuscar o que eles estão a fazer nas nuvens (em portugal país de gente que se ergue no ar e desparece a meio da rua, no meio de uma conversa, isso é quase trivial) e um espaço para os cegos se sentarem e dizerem mal das coisas que ainda não viram e mais outro canto para os velhos jogarem à sueca, rogarem as suas pragas em paz e poderem bater forte com a carta na mesa, não se vá perder a raça com molezas.
O Fingidouro na aparência é em tudo praticamente igual ao Miradouro. Podia-se colar um Fingidouro no Miradouro da Graça que não se dava por nada. Tudo continuaria, aparentemente, como dantes, com algumas pequenas variantes. As pombas errantes seriam mortos por Berlaites em vez de o ser pelo veterinário municipal Arantes, responsável pela matança das pombas urbanas e sub. Quanto ao submarino atómico do Lago deitaria abaixo as paredes da cadeia das Mónicas, só para ver as gajas nuas, em vez de deitar pó de matar traça por cima da oposição. No decote profundo de Tonina ver-se-iam cravados os dentes dos cem mil faunos magruços da almirante reis (e o sangue escorreria pela colina abaixo como um rio grande, desaguando no Tejo que ficaria instantaneamente púrpura) em vez do baton de marca de Fanny Milhazes e o charro teria o tamanho das Torres do Tavas para passar mil anos a puxar fumaça enquanto a chata e desiderata gente actual despareceria, fiacando só dela um pó verde de cianeto no ar, bom para brincar às estrelas.
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