E SE NÃO HÁ VIDA DEPOIS DA VIDA É PORQUE HÁ MAIS MORTE DEPOIS DA MORTE?
Eu quero um país de bondade e de espuma
Cesariny
Não dá jeito falar da morte. Não se deve. Não se pode. A morte é cocó. A morte é xixi. É a última obscenidade, escondam dentro de um saco plástico, deitem-na ao lixo. E depois Iça! ao túmulo. Entulhem aquilo de flores. Não seria melhor deitar diamantes em cima do túmulo, atirar por cima um Cavalo fulgurante, qualquer coisa que desloque, uma Oblíqua Orquídea Carnívora, um Verme de Paletot e risca na braguilha?
às vezes penso, às vezes finjo que penso: Será que os meus amigos morrem por pura distracção minha? Não estive atento, deixei correr o bilhar, caí dentro do presunto, estive demasiado tempo dentro de um vidro a conversar com o Grão Defenestrador dos Transparentes? Será que eles é que se distraíram? Distraí-mo-nos todos? e Hop, lá veio a Gadanheira, sem pressa, inexorável, passo curto de Abutre longo, com o seu tapete de sósias. A morte é um grande caos convexo, tem barriga e labirinto. E mais cenas. Enfim lá vai mais Um da Velha Guarda, submarino ou porta-aviões, ao fundo. Ponho uma cruzinha nesse dia, tento lembrar-me dos mantras a Osíris, de um simples herdeiro delas, um Pai-Nosso, eu que sou agnóstico e rezas, cristãs ou egípcias, não é comigo?
Bem, não tenho muitas certezas, não tenho mesmo quase nenhumas. Não passo de uma flor carnívora a trote sobre um dos vossos paraísos roídos, por inépcia nossa. E não tenho a certeza se a morte de facto existe, se aquilo não é também um Outro Sonho, como a vida. Ou um sonho dentro de um sonho, como às vezes acontece. Há assim contrastes tão nítidos e pragmáticos. Morte, fim. Vida, início? Contrastes assim só no design, preto de um lado, branco de outro. E no zen dos subúrbios, no sermão aos crocodilos.
In my end is my beginning diz o TS Eliot (era mesmo bancário o meco). E vá-se lá confiar em poetas. São piores que o governo. Corja de falsários, (eu incluído)
e quanto de mim morreu com quem morreu? De quem sinto mais a falta? Se calhar mais de um, do meu eu por exemplo que morreu com o morto do que do morto propriamente dito. Choro de mim, por mim, mais do que pelo outro. Deve ser assim. Sou um egoísta- padrão. Engoli uma espada de cristal noutro planeta. E isto porque não sou olímpico e justo e imparcial como Júpiter, vidente de almas, senhor do Inexorável?
Excelente. Cá vieram. A central Ateísta não vigia, não deitou deicida q.b.. Pairam, sobrevoam, saiem dos recessos do sub do in ou do consciente? Mas e se a Central Ateísta tiver mesmo razão, e além de Deus também não há deuses? Dostoyevskiana perspectiva no plural. Se não houver nem deus nem deuses nem imortalidade abriu-se uma bocarra negra? Zap! Tudo sumido lá dentro, Vida e Obras Completas, o caracol da Henriqueta, a corrida do gato preto cortina acima, trinta e dois quadros do Marinheiro, a comenda que deu o Sampaio cá ao esqueleto.
Ou abriu~se a Clara Luz do Vazio e aparecem as encenações do Bardo Todhol ( tem pintex que aquilo que se chame Bardo, cheiro forte a druida, que como é sabido tresandam a folha de ouro, a carvalho prateado)? Ena! agora vejo o filme de toda a minha vida. Os pintelhos da Alzira. O meu odiado bisavô de cravo na botoeira. O Ourives da minha Alma, o dr. Santos Abreu.
Mas se calhar andamos todos mortos (Central Ateísta na sua missão de bactericida, incluída - aquilo também é outra seita), a ralhar uns com os outros, a sermonear, a lançar recados. Ou pior que mortos, meio morridos, com, aquela meia leca típica do luso, escarro para o lado, coça-na-bola, palita o dente, constrói aí o prédio, ó Azevedo? Ou se calhar dá para o chopinesco, bela mão pálida no peito, só falo em axiomas e aforismos e em poema de muito quilate, com anjos rilkeanos nos dias da impossibilidade. Terrível um anjo. Pior do que isso, inesquecível.
a verdade é que ninguém tem jeito para se compor diante da morte. Neste último teatro niguém se safa, cada personagem de lenço a dizer adeus fica mal, descabido, descosido da realidade e pior ainda: da surrealidade. O discurso é demasiado grande ou curto. Está tudo fora de cena, não foi aqui que se passou, as coisas não foram bem assim. Quem foi para dentro da cova foram todos os acompanhantes, nós todos. O morto? Eh? pirou-se a correr deixando um rasto de fogo. Foi beber uma bica ao Inferno.
AH! e não se esqueçam de dar uma sova no coveiro!
Nota de Lord Drummond: ele há cada duplo etérico mais complicado. Talvez o simplex um dia legisle sobre a morte. Vamos ser todos muito mias felizes depois disso.
Cesariny
Não dá jeito falar da morte. Não se deve. Não se pode. A morte é cocó. A morte é xixi. É a última obscenidade, escondam dentro de um saco plástico, deitem-na ao lixo. E depois Iça! ao túmulo. Entulhem aquilo de flores. Não seria melhor deitar diamantes em cima do túmulo, atirar por cima um Cavalo fulgurante, qualquer coisa que desloque, uma Oblíqua Orquídea Carnívora, um Verme de Paletot e risca na braguilha?
às vezes penso, às vezes finjo que penso: Será que os meus amigos morrem por pura distracção minha? Não estive atento, deixei correr o bilhar, caí dentro do presunto, estive demasiado tempo dentro de um vidro a conversar com o Grão Defenestrador dos Transparentes? Será que eles é que se distraíram? Distraí-mo-nos todos? e Hop, lá veio a Gadanheira, sem pressa, inexorável, passo curto de Abutre longo, com o seu tapete de sósias. A morte é um grande caos convexo, tem barriga e labirinto. E mais cenas. Enfim lá vai mais Um da Velha Guarda, submarino ou porta-aviões, ao fundo. Ponho uma cruzinha nesse dia, tento lembrar-me dos mantras a Osíris, de um simples herdeiro delas, um Pai-Nosso, eu que sou agnóstico e rezas, cristãs ou egípcias, não é comigo?
Bem, não tenho muitas certezas, não tenho mesmo quase nenhumas. Não passo de uma flor carnívora a trote sobre um dos vossos paraísos roídos, por inépcia nossa. E não tenho a certeza se a morte de facto existe, se aquilo não é também um Outro Sonho, como a vida. Ou um sonho dentro de um sonho, como às vezes acontece. Há assim contrastes tão nítidos e pragmáticos. Morte, fim. Vida, início? Contrastes assim só no design, preto de um lado, branco de outro. E no zen dos subúrbios, no sermão aos crocodilos.
In my end is my beginning diz o TS Eliot (era mesmo bancário o meco). E vá-se lá confiar em poetas. São piores que o governo. Corja de falsários, (eu incluído)
e quanto de mim morreu com quem morreu? De quem sinto mais a falta? Se calhar mais de um, do meu eu por exemplo que morreu com o morto do que do morto propriamente dito. Choro de mim, por mim, mais do que pelo outro. Deve ser assim. Sou um egoísta- padrão. Engoli uma espada de cristal noutro planeta. E isto porque não sou olímpico e justo e imparcial como Júpiter, vidente de almas, senhor do Inexorável?
Excelente. Cá vieram. A central Ateísta não vigia, não deitou deicida q.b.. Pairam, sobrevoam, saiem dos recessos do sub do in ou do consciente? Mas e se a Central Ateísta tiver mesmo razão, e além de Deus também não há deuses? Dostoyevskiana perspectiva no plural. Se não houver nem deus nem deuses nem imortalidade abriu-se uma bocarra negra? Zap! Tudo sumido lá dentro, Vida e Obras Completas, o caracol da Henriqueta, a corrida do gato preto cortina acima, trinta e dois quadros do Marinheiro, a comenda que deu o Sampaio cá ao esqueleto.
Ou abriu~se a Clara Luz do Vazio e aparecem as encenações do Bardo Todhol ( tem pintex que aquilo que se chame Bardo, cheiro forte a druida, que como é sabido tresandam a folha de ouro, a carvalho prateado)? Ena! agora vejo o filme de toda a minha vida. Os pintelhos da Alzira. O meu odiado bisavô de cravo na botoeira. O Ourives da minha Alma, o dr. Santos Abreu.
Mas se calhar andamos todos mortos (Central Ateísta na sua missão de bactericida, incluída - aquilo também é outra seita), a ralhar uns com os outros, a sermonear, a lançar recados. Ou pior que mortos, meio morridos, com, aquela meia leca típica do luso, escarro para o lado, coça-na-bola, palita o dente, constrói aí o prédio, ó Azevedo? Ou se calhar dá para o chopinesco, bela mão pálida no peito, só falo em axiomas e aforismos e em poema de muito quilate, com anjos rilkeanos nos dias da impossibilidade. Terrível um anjo. Pior do que isso, inesquecível.
a verdade é que ninguém tem jeito para se compor diante da morte. Neste último teatro niguém se safa, cada personagem de lenço a dizer adeus fica mal, descabido, descosido da realidade e pior ainda: da surrealidade. O discurso é demasiado grande ou curto. Está tudo fora de cena, não foi aqui que se passou, as coisas não foram bem assim. Quem foi para dentro da cova foram todos os acompanhantes, nós todos. O morto? Eh? pirou-se a correr deixando um rasto de fogo. Foi beber uma bica ao Inferno.
AH! e não se esqueçam de dar uma sova no coveiro!
Nota de Lord Drummond: ele há cada duplo etérico mais complicado. Talvez o simplex um dia legisle sobre a morte. Vamos ser todos muito mias felizes depois disso.
1 Comments:
Carissimo Miguel
HAH! Quando me enterrarem ou, mais certo, me cremarem porque aqueles hotéis dos esqueletos estão cheios a mais não poder - cheios dentro e cheios fora - vou experimentar dar uma sova no coveiro, porque o padre não se vai atrever a ir, nem o juíz nem o polícia,
um abraço de parabéns por todos estes textos que pelo menos na vida efemera de um poema, ressuscitaram por uns instantes o nosso Cesariny, ganda pirata e sortudo, agora a voar, a voar, a voar como aquele queria no imenso ilimitado obscuro.
Ruy
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