ESSA VOZ INSISTENTE DE SEREIA
Charles Baudelaire podia ter dito uma coisa assim:
Essa voz insistente das sereias que não existem, mas em que é preciso acreditar, às vezes toma, com felicidade, o lugar da voz da razão - que também não existe, mas na qual convem acreditar. E ao dar-lhe guarida abrimos dentro de nós maravilhosas possibilidades de irrealidade, que são muito contrárias aos tempos utilitários, é certo, mas que tem um supremo golpe de asa que as emancipa das penosas colunas do deve e haver.
E se o tempo burguês contabiliza tudo, não só o dinheiro mas os sentimentos e as emoções (gerir as emoções, frase de escola psicológica horrível que traz para o campo emocional a mão do contabilista), a voz das sereias descontabiliza. Não nos pede juros nem ajustes de contas, apenas ajustes de contos. Apenas a voz lançada ao mar, sem anzol, sem rede, sem objectivo.
Foto : Charles Baudelaire por Nadar
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