/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: SÍSIFO LIBERTADO

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

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2007-01-18

SÍSIFO LIBERTADO


O mago patrono deste blog é o mortal condenado a ser imortal, de nome Sísifo, a quem os deuses fizeram a brincadeira de o condenar a empurrar uma pedra até ao alto da montanha, a qual, uma vez lá em cima rolaria até baixo, recomeçando todo o processo, em troca da imortalidade.

Camus recuperou a figura de Sísifo, bem como a de Dón Juan Tenório y Molina, o famoso e trágico sedutor, porque precisava de heróis que representassem a experiência trágica no mundo moderno, e num ensaio célebre a propos de Sísifo, acaba com uma frase notável: "é preciso imaginar Sísifo feliz." Podemos também imaginar que Camus, um pied-noir, tivesse tido algumas experiências de haschich e estivesse ciente doutros significados da palavra "pedra." (em português droguístico "estar com uma grande pedra" significa ter inalado a essência do hasch, o cannabinol, e dispor por umas horas de uma experiência de intensificação dos sentidos, que levou Baudelaire a comparar o estado de kief a uma intromissão, delituosa, no paraíso. Daí o seu título, Paraísos Artificiais.)

Sem dúvida, há que reconhecer o imenso mérito de Camus em ter dotado a "pesada noite reaccionária" (Barthes) que atravessamos de uma figura de tão incerta e obscura, mas decisiva luz, como é a de Sísifo. Há um esgar de triunfo, uma promessa de que mesmo com o peso dos deuses injustos sobre nós, conseguimos levar a cabo e até aos últimos limites a realização do sentimento do absurdo total de todas as coisas, condição necessária para inaugurar um sentido novo de todas as coisas.

O homem que se refugia numa qualquer ideologia, entidade ou instituição fornecedora de sentido e de transcendência (o negócio das religiões e dos cultos políticos, ou outros, afinal) afinal vende a sua alma, pensa com a ideia dos outros, não a partir das suas ideias conquistadas no duro crisol da experiência própria. Sísifo é o mentor das almas livres, as únicas arstocráticas, que apesar da tirania divina, conseguem desafiar a montanha (a montanha do preconceito) e são capazes de fundar um sentido novo para todas as coisas, independente do sentido obrigatório imposto pelo partido, culto, religião, tendência, moda, progreso ou tradição.
Sísifo é, literalmente e em todos os sentidos, um "herói digital", porque é com os dedos que empurra a pedra, e é igualmente um antiherói porque ninguém o celebra, nem ele deixaria que se fundasse a Igreja de Sísifo, por exemplo, porque ele logo desde o princípio intuiu que havia uma existência que transcendia a dos deuses, a humana, e que só na assunção plena dessa condição desesperada o homem podia deixar de ser mais um escravo. E é por esta constância na prossecução de uma experiência inteiramente única que Sísifo é um herói que transcende a modernidade, e interage com todas as eras e nos mostra que é possível, superar mesmo o mundo fenomenal dos diversos escravos coroados e dos rígidos deuses.