DO IRREAL ABJECTO QUOTIDIANO
Ler o jornal o Público, ouvir o noticiário da televisão, actuam sobre mim como um soporífero.
Passar por subúrbios provoca-me uma má perplexidade e uma irritação de ordem estética. Como é possivel ter realizado na terra o ideal absurdo de viver em subúrbios? Vejo os subúrbios como níveis dos infernos tristes de Dante, como cidades doentes projectadas por sizas e isaltinos ainda menores.
Uma nova palavra, desesperadamente irónica surge: num inglês de viseu: isaltation.
Alguém que tem isaltation com tons de telemóvel concerteza já padece de um grau de surdez.
A ideia de concentrar tudo num telemóvel, fotos, músicas favoritas, videos, etc. mostra como se privilegiou uma forma "isaltina" de memória: tudo é pequeno, autista, maníaco e de qualidade duvidosa.
Acordei a pensar o que poderia ser um trovador digital, mas parece-me uma contradição insuperável. De resto a palavra digital nada tem de dedo, porque é baseada em formas geométricas pasteurizadas, enquanto o dedo, o dedo humano, é errático.
O dedo impressiona-se muito com a sua impressão digital?
O cineasta Jacques Tati foi dos primeiros a rir-se da pressa com que adoptamos os últimos gadgets da tecnologia, que talvez tenham um mérito, pelo menos, lembrar-nos daquilo que perdemos.
Não é Lisboa, é Oeiras que se expande. E a nova Oeiras está à espera do seu Jacques Tati.
Nós temos produzido do melhor absurdo habitacional que há na Europa.
Os comunismos produzem gerações de burocratas, as democracias de neuróticos.
Quem mais veste roupa dita de jovem são os urbanos velhos.
Hoje em dia somos todos suburbanos e isso é desastroso.
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