UM ESTOICISMO CHEIO DE PNEUS FURADOS
NA MANHÃ A SEGUIR À ELEIÇÃO DE DOIS TIRANETES (mas os opositores não lhes eram em nada melhores)
hoje numa manhã lamacenta
em que acordei numa casa de empréstimo
com um estoicismo cheio de pneus furados
com uma tv alugada que não funciona
uma casa de cimento rachado e marmorite na empena
e um autoclismo da pívea onde se enforcam
as sereias
depois de me cruzar com a porteira de cara de pau
(uma ficcionista portuguesa)
e de ouvir o chinfrim patriótico das traseiras
pensei que isto de não ser poeta tem a sua graça
e algumas vantagens, por exemplo,
quando alfim ! vem a puta morte, a estica-larica
que leva tudo, verme e maré, gravata e preservativo,
não se tem nada na gaveta, noves fora nada,
nem uma carta
nem uma Ode à Distância,
nem sequer um hexâmetro
ou um pterodáctilo
nem se terá para os igualmente boçais vindouros
um nome na praceta
um prazer sonoro para beliscar ao de leve
a buceta
e então um grande constrangimento luso como o
de uma mente apagada a borracha
invade-me os flancos admirados
com a visão de ruas estateladas onde os
homens com cabeça de formiga
laboriosamente votam nos seus novos tiranos
e fazem filhos formigas e cândidos
que esqueceram tudo dentro dos telemóveis
atirados ao rio
hoje numa manhã lamacenta
em que acordei numa casa de empréstimo
com um estoicismo cheio de pneus furados
com uma tv alugada que não funciona
uma casa de cimento rachado e marmorite na empena
e um autoclismo da pívea onde se enforcam
as sereias
depois de me cruzar com a porteira de cara de pau
(uma ficcionista portuguesa)
e de ouvir o chinfrim patriótico das traseiras
pensei que isto de não ser poeta tem a sua graça
e algumas vantagens, por exemplo,
quando alfim ! vem a puta morte, a estica-larica
que leva tudo, verme e maré, gravata e preservativo,
não se tem nada na gaveta, noves fora nada,
nem uma carta
nem uma Ode à Distância,
nem sequer um hexâmetro
ou um pterodáctilo
nem se terá para os igualmente boçais vindouros
um nome na praceta
um prazer sonoro para beliscar ao de leve
a buceta
e então um grande constrangimento luso como o
de uma mente apagada a borracha
invade-me os flancos admirados
com a visão de ruas estateladas onde os
homens com cabeça de formiga
laboriosamente votam nos seus novos tiranos
e fazem filhos formigas e cândidos
que esqueceram tudo dentro dos telemóveis
atirados ao rio
posted by Miguel Drummond de Castro | 13:01
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