/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力: O INSÍGNE FUNCIONARIADO

PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

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2007-06-21

O INSÍGNE FUNCIONARIADO







Somos um país de fils-à-papa. Se tens talento mas o teu papá é um qualquer trabalhólico anónimo, não ganhas o lugar. Mas se o teu papá tem a pança bem assente nas calhas de uma carreira (basta ser um alto funcionário de qualquer coisa, o que não é dificil neste país de funcionários) e a sua cabeça já está aureolada com a paz que dá uma boa reforma, escusas de ter talento, o mundo é teu.


Nada de grave. É preciso com inteligência defender a mediocridade, para assegurar a continuidade da mesma. O que mudou com o 25 de Abril? No detalhe alguma coisa, no essencial praticamente nada. Está lá a mesma gente, os novos fils-à-papa, mais uma espécie proliferante de pedofilia política, os boys.

Engordar, criar calva e pança respeitável, sustentar a Pátria e a Família (e a amante, com idas discretas ao bordel) dantes era possível e desejável ao doce abrigo da União Nacional, que se desdobrava em mil tentáculos, como a Legião e a FNAT. Agora a oferta multiplicou-se. À sombra de qualquer partido pode-se esperar pela pança pacata e um futuro estável para nós e descendência. O próprio bloco de esquerda, luz dos povos, caminha para a estabilidade funcionarizada.

Por isso tudo nestas xanaxadas eleições para a Câmara de Lisboa eu votaria em quem dissesse: não votem em mim além de fils-à papa sou um refinadíssimo filho da mãe.

Mas não vislumbro nenhum com esse perfil. São todos imaculados. Desde o berço devotam um amor filial a Lisboa. X fazia colecções de azulejo na infantil. Y desenhava corvos com um ramo de oliva no bico. Z em vez de ir para a rua atirar pedras e bolas feitas de jornal sobre a cabeça dos transeuntes encerrava~se na biblioteca e contemplava estampas da cidade do século XVIII. Tanto X, Y e Z, desde pequenos alfacinhas de eleição, sabiam que um dia teriam de apoiar os santos populares (invenção de António Ferro, a luz estética do Salazar) e os sidosos. Convem ter um coração solícito com a lepra dos modernos. Um lazareto. Doces falas de inclusão social.

X visita a mesquita e tem um pequenito discurso à Laurinda Alves sobre o respeito por todas as religiões, e a necessidade de fomentar o diálogo. Y visita depósitos de velhos atrás de velhos. Calejado com os manípulos das suas duzentas motas Z canta o seu hino de Lisboa, em mangas de camisa, ao lado do povo. Y dá o seu beijo de Judas, o outro o seu beijo de Judoca. Dão beijos e abraços em terceiro idosos diante das Cãmaras. Uma onda de love love percorre as candidaturas. Um aquece o coração falando de como devemos proteger os idosos, outro no nobre peito estreita os sidosos e as casas de chute. Também abre a porta ao casamento gay. Imagine-se daqui a uns anitos, o casamento, à civil, de gays por alturas do S.António.
Emoções fortes, liberdade popular. Se se fizesse um retrato robot do modelo de herói popular acarinhado pelos candidatos à Câmara este seria um idoso, gay, que é sidoso e frequenta casas de chute. Cravo atravessado na boca, aos pulos como o João Baião.

O sismo económico da Câmara? Vai-se resolver com rigor. Os homens fortes, um escuro de pele e o outro no apelido, estão mortos por que acabe a campanha. Desde o primeiro dia, mais aeroporto menos aeroporto, que já não tem nada de novo a dizer. E seja quem fôr que lá chegue ao topo, e branda a Vara do poder autárquico, será para nosso conforto e descanso, mais um fils-à-papa, um ex-boy criado à sombra benigna deste ou daquele partido.

Entretanto W o homem do antigo Partido popular, com nome de fidalgo da Casa Mourisca, ou de peça do Dantas-morra-pim tenta parecer um fantasma saído de um filme inglês. Está ali para assustar. É magruço. Não tem pança? Tem, mas é só mental. Desde pequeno treina ser coruja.
Entretanto o outro candidato, doutro partido popular, o defensor do proletariado urbano de facto rola por cima de uma pança estimável, tratada, envernizada, cimentada em belas e bem regadas jantaradas. Esteja portanto a Pátria tranquila. Felizmente nada se passará. A estabilidade fundamental do sistema de fils-à-papa continuará intocável. O seu corolário, o de filhos da mãe, também. Lisboa pode continuar o seu soninho, embalado pelas sereias. Está garantido o prazenteiro sono diurno em qualquer repartição.