SENHOR HOSSEIN
senhor Hossein vamos falar
suicídio morte tranquilizantes
tome uma cadeira
estamos sentados à sombra
dantes ouviam-se as abelhas
e sabe o que quer dizer cicadas?
tomávamos um café
antes de jogar os dominós
senhor Hossein
vejo-o a dirigir-se para a mesquita
tem um ar carregado
há quanto tempo não grita?
não se levante já
pode começar a tirar esse cinto
vá devagar
temos tempo para morrer
não é verdade
mas para quê ter pressa
em morrer?
tire o cinto devagar
entre um momento e outro
eu sei que não passa a Fénix
mas pode passar um abelhão
são surpreendentes
não não vêem doutra galáxia
nem conhecem o reflexo de prata
que o sol faz na copa das oliveiras
senhor Hossein não lhe quero perguntar
porque vai para a praça de Haifa
não me interessa a política
interessa-me a luz da manhã
pairando sobre o corpo das mulheres
senhor Hossein por favor tire o cinto
não sei se haverá paraíso
depois do tempo
nem se somos seres carregados de tempo
sim o seu avô passava por esta rua asfaltada
com um rebanho de cabras
o muezzin pastoreava palavras
agora passam jipes
moças de blue jeans e tchador
o mundo está sempre a acabar
não é assim sr. Hossein?
o retrato de John Lennon ao lado de Ali
o telemóvel diante do cordeiro esfolado
uma parabólica em frente a uma bilha de barro
não olhemos para o lixo de todas
essas garrafas de plástico vazias
assim com tão maus olhos
podíamos falar da gritante anomalia do lixo
podíamos falar da discreta anomalia das pedras
cada pedra a bem ver é anómala
já que não aceita um café
nem um chilom
ao menos aceite um grito
vindo do fundo do meu ser
eu também tenho um cinto
carregado de poesia
Sr.Hossein a poesia é mais letal
que todas as bombas que traz
no seu cinto
mas eu vou tirar o meu cinto
vou ficar sem metáforas
dou ao vento os meus jardins
no topo da onda
sentemo-nos como dois sufis
diante das garrafas proibídas
a manhã sobe a rua devagar
suicídio morte tranquilizantes
tome uma cadeira
estamos sentados à sombra
dantes ouviam-se as abelhas
e sabe o que quer dizer cicadas?
tomávamos um café
antes de jogar os dominós
senhor Hossein
vejo-o a dirigir-se para a mesquita
tem um ar carregado
há quanto tempo não grita?
não se levante já
pode começar a tirar esse cinto
vá devagar
temos tempo para morrer
não é verdade
mas para quê ter pressa
em morrer?
tire o cinto devagar
entre um momento e outro
eu sei que não passa a Fénix
mas pode passar um abelhão
são surpreendentes
não não vêem doutra galáxia
nem conhecem o reflexo de prata
que o sol faz na copa das oliveiras
senhor Hossein não lhe quero perguntar
porque vai para a praça de Haifa
não me interessa a política
interessa-me a luz da manhã
pairando sobre o corpo das mulheres
senhor Hossein por favor tire o cinto
não sei se haverá paraíso
depois do tempo
nem se somos seres carregados de tempo
sim o seu avô passava por esta rua asfaltada
com um rebanho de cabras
o muezzin pastoreava palavras
agora passam jipes
moças de blue jeans e tchador
o mundo está sempre a acabar
não é assim sr. Hossein?
o retrato de John Lennon ao lado de Ali
o telemóvel diante do cordeiro esfolado
uma parabólica em frente a uma bilha de barro
não olhemos para o lixo de todas
essas garrafas de plástico vazias
assim com tão maus olhos
podíamos falar da gritante anomalia do lixo
podíamos falar da discreta anomalia das pedras
cada pedra a bem ver é anómala
já que não aceita um café
nem um chilom
ao menos aceite um grito
vindo do fundo do meu ser
eu também tenho um cinto
carregado de poesia
Sr.Hossein a poesia é mais letal
que todas as bombas que traz
no seu cinto
mas eu vou tirar o meu cinto
vou ficar sem metáforas
dou ao vento os meus jardins
no topo da onda
sentemo-nos como dois sufis
diante das garrafas proibídas
a manhã sobe a rua devagar
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