SOLIDÃO
nestes ermos onde não vejo ninguém durante dias a fio conheço face a face a solidão e gosto dela como a melhor companhia deste mundo e doutros
E discretamente vou desenvolvendo uma certa antropofobia sobretudo ao perceber que as conversas da maior parte das pessoas gira sobre dinheiro, ou o tempo que faz, ou sobre aquilo que gostam de mostrar que tem
e tudo isso não me interessa rigorosamente nada nem tem importância alguma, então volto para lugares onde não se ouça a voz humana, onde não haja presença humana alguma e assim misturo-me às pedras, oliveiras, insectos e pássaros e cães que passam ao longe
vejo-me vagamente como um deles, um ser entre o arbóreo e o animal, com umas unhas riscadas pelo luar, apenas um ser capaz de sol: ou seja, de estar sem pensar em nada com o sol dentro de mim nas mãos abertas
e assim passam eras por mim e sou transparente ao vento que também me atravessa e começo a respirar com toda a pele
toco num quase animismo de estar tudo vivo e idêntico e onde nenhum ser senciente tem alguma qualidade ou distinção
quem sabe se toquei no Grande Indiferenciado de que falam os Taoístas ou se pressenti um sopro de ser diferente e idêntico que me iguala à mesma condição de todas as coisas transitórias e gloriosas, anónimas e em soberania
os pássaros cantam-me
E discretamente vou desenvolvendo uma certa antropofobia sobretudo ao perceber que as conversas da maior parte das pessoas gira sobre dinheiro, ou o tempo que faz, ou sobre aquilo que gostam de mostrar que tem
e tudo isso não me interessa rigorosamente nada nem tem importância alguma, então volto para lugares onde não se ouça a voz humana, onde não haja presença humana alguma e assim misturo-me às pedras, oliveiras, insectos e pássaros e cães que passam ao longe
vejo-me vagamente como um deles, um ser entre o arbóreo e o animal, com umas unhas riscadas pelo luar, apenas um ser capaz de sol: ou seja, de estar sem pensar em nada com o sol dentro de mim nas mãos abertas
e assim passam eras por mim e sou transparente ao vento que também me atravessa e começo a respirar com toda a pele
toco num quase animismo de estar tudo vivo e idêntico e onde nenhum ser senciente tem alguma qualidade ou distinção
quem sabe se toquei no Grande Indiferenciado de que falam os Taoístas ou se pressenti um sopro de ser diferente e idêntico que me iguala à mesma condição de todas as coisas transitórias e gloriosas, anónimas e em soberania
os pássaros cantam-me
2 Comments:
Caro Drummond:
Li uma vez não sei bem onde que nunca estamos sós porque há sempre alguém que gostaria de estar connosco. Ora devo dizer-lhe que até a minha rã amarela, tão ciosa do seu charco, me confessou gostar de o visitar.
Cada um fala do tem dentro de si, alguns não têm grande coisa, já se sabe, desde que sejam pacifícos está tudo bem. O problema é que o vazio existêncial sempre gerou animosidades.
Só os Sós se dão com os Sós (desculpe o cicio)
Miguel
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