FALSOGRAFIAS 2
Falsografia de Florbela Espanca
Esta poetisa alentejana, Florbela Espanca que fazia como toda a gente - vivia num subúrbio - escreveu um verso memorável: cada mulher tem 18.000 corpos e está enterrada no Mosteiro dos Jerónimos. Tiveram que pôr duas toneladas de pedra por cima do túmulo, feito por um daqueles escultores da Casa Pia - só há destes em Portugal - porque ela já de lá saíra um ror de vezes, sempre indignada, prometendo ir à tromba a todos os seus editores e intérpretes. Da última vez que saiu da tumba, com o xaile em chamas e uns olhos ultavioleta (um dos seus dezoito mil corpos, naturalmente) foi directamente ter com um homem dos seguros chamado Vasco Desgraça Moura, e puxou-o pelos bigodes para dentro do seu túmulo, e depois de vestir o seu fato de linho branco, chapéu panamá e monóculo foi vista em vários bordéis da cidade do Porto onde escreveu "é no Bordel que tudo Voa, é lá que tudo existe".
Depois foi para freira num Castelo no Além, que nem sequer era muito Além, pois de facto estava sediado na Bulménia, aonde há imensas mercearias portuguesas. Na naite, atacava marçanos baixotes e com borbulhas, que a seguir se transformavam em princesas de telenovela portuguesa contemporânea, que diziam coisas profundas como "ercuto" e "flatulência."
Desesperado, por não a ver a assistir aos seus desfiles de moda, o primeiro ministro da altura, um desses quaisquer descartáveis que volta e meia nos dizem que é o PM desta Choça Palhaça, decorou as suas Obras Completas, Publicadas na Editora A Língua Leve, e em vez de discursar lia as suas poesias, mesmo quando tinha um nariz de um quilómetro (era daqueles Pinoquio a quem por cada mentira cresce o apêndice nasal). Seja como for, a partir daí ganhou todas as eleições.
Agora quando se ouve o seu nome, toda a gente chora. Vivemos num país em que não é preciso ler os poetas, basta chorá-los.
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