FUSILADO NOS CÉUS
Fui fusilado nos Céus, não por um caça inimigo, mas por uma Aza - a tua máscara. Depois a congestão de uma colina envenenada pela sabedoria das papoulas subiu-me ao crânio. Três tiros de ser dão palmeiras ferozes. Cresceram-me tâmaras pela minha pele suja. O meu sangue desenhou um início de muro altíssimo_ o meu coração a bater entre dois oceanos. Reconheci logo o humor furioso e frio das gaivotas a pingar no astrolábio, que ainda levava. Tempos meus de cão de outrora, que me cingiam os rins como amêndoas novas.
Tu sabes como eu corria pela erva negra do Universo - tocava no bafo podre de algumas estrelas. Entranhava no fígado canções de planetas mortos. Oh - essas passagens pelos grande pontos crepusculares, o entretenimento das Grandes Daturas Solitárias - fazia-me estremecer. Quem conhece os Abismos como eu olha na cara as Duzentas Mortes retrácteis que me abraçam, irmãs brancas, sedosas, crescidas depois das grandes devastações de ternura dos stagodontes...
Vi o grave violador de deuses - tinha as marcas de Ísis, a irmã dos negros - subi até ele em Unha e Uivo. Mordi-lhe a boca com a minha língua azul envenenada. Nós nunca deixamos nada, nunca esquecemos nada. Devo tudo aos húmus de Cybéle, e aos traços de bruma de uma serra a que nunca fui mas que me busca.
Tu sabes como eu corria pela erva negra do Universo - tocava no bafo podre de algumas estrelas. Entranhava no fígado canções de planetas mortos. Oh - essas passagens pelos grande pontos crepusculares, o entretenimento das Grandes Daturas Solitárias - fazia-me estremecer. Quem conhece os Abismos como eu olha na cara as Duzentas Mortes retrácteis que me abraçam, irmãs brancas, sedosas, crescidas depois das grandes devastações de ternura dos stagodontes...
Vi o grave violador de deuses - tinha as marcas de Ísis, a irmã dos negros - subi até ele em Unha e Uivo. Mordi-lhe a boca com a minha língua azul envenenada. Nós nunca deixamos nada, nunca esquecemos nada. Devo tudo aos húmus de Cybéle, e aos traços de bruma de uma serra a que nunca fui mas que me busca.
2 Comments:
Poeta, diga-me o que isto lhe parece:
um dia ia a passear no campo e uma planta cuspiu-me na cara.
Lembro este episódio por ter ficado muito chocado, é que não é o mesmo que ir na rua e uma pomba cagar-nos (peço desculpa pelo termo, mas é português bem expressivo) em cima.
A plantinha cuspiu-me para a cara, sem mais nem quê.
Fiquei meio perdido e bastante desolado, ainda me agachei para ver como a tinha melindrado mas ela implacável escondeu-se.
Tipo: "porco, desaparece-me da vista!"
Lá fui gastar umas massas no psiquiatra, quando ainda acreditava neles, e nada, nenhuma razão para este nojo vegetal.
Caramba!
Só hoje desconfio dos motivos mas esperava que os descobrisse você com outras palavras, as de poeta, claro.
Ó
Caro Ó,
Fantástico! Aqui no Sísifo gostamos de anomalias. A sua história inscreve-se desde logo no registo do raro. Mas não sei se é uma coisa de absolutamente pessoal entre si e a planta, ou se uma mera coincidência - se é que as há.
No entanto, se tivesse ido a um botanista ele talvez lhe tivesse dito que há uma espécie - a Nepenthes Miranda - que age assim.
Por outro lado essa espécie deve ter encarnado em milhões de portugueses escarradores
compulsivos- Lembro-me que, em Lisboa, um amigo e eu debatemos a possibilidade de andar com pequenos guardachuvas na ponta dos sapatos para conseguir passar pelo meio dos escarradores nacionais que praticam o seu desporto em qualquer via pública.
Quem diria que milhares e milhares de alfacinhas são reencarnações de Nepenthes!
Apareça sempre,
Miguel
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