PAROQUIAIS E ILUMINADOS
Este governo quer estar a todo custo dans l'air du temps, e supõe que isso consiste em ter uma postura cientista, racional, programática e com hiperobjectivos a realizar o mais depressa, custe a quem custar. E contra si, define o governo, tem as forças das trevas que são "irresponsáveis" e talvez pior do que isso "paroquiais".
O governo tem assim um voluntarismo compulsivo e radical de mudança, e quem desconfia da bondade e oportunidade das mudanças impostas por decreto é "imobilista". A pouco e pouco tem este governo polarizado as situações, criando um maniqueísmo prático, com efeitos colaterais fundamentalistas e totalitários (não de todo surpreendentes no socialismo, que recorde-se procede de uma cisão do primeiro comunismo).
Cheio da superstição no poder da "técnica", dir-se-ia que o primeiro iluminismo chegou agora finalmente, com 200 anos de "décalage" a estas praias. Os obreiros iluministas arregaçam as mangas e com uma ingénua crença na "ciência" propiciam momentos não de ciência, mas absolutistas. Numa palavra confundiram a atitude cientóide com a atitude cientifica, embora se reclamem de dois dos atributos da ciência: o rigor e a objectividade.
Para se justificar das suas acções arranjam um mentor de peso: A Europa. Para o Governo há que "estar em conssonância com a Europa". Este mitema de conssonância, significa uma política de alinhamento e de seguidismo em que, sob pena de ser retrógrado e imobilista, "não se pode ficar para trás". Isto dá lugar a uma peculiar e geral ansiedade de conssonância
Aqui há um acto de fé de tipo naíf nas possibilidades liderantes dessa entidade vaga e platónica "a Europa" que se supõe estar imbuída das forças iluminadas do progresso e da economia. A falácia desta proposição é que não há garantia nenhuma que a Europa seja o que o governo pensa que ela é. Pode dar-se o caso de o modelo europeu não ser mais do que o último avatar do capitalismo neo-liberal e estar a repisar os paradigmas de um modelo industrial e social em estado agudo de falência global.
Um quadro de Breughel em que outros cegos e coxos seguem um cego que vai à frente, a meu ver, ilustra bem os caminhos "conssonantes" deste governo, carneiro obediente, servo fiel da "Europa", preocupado em obedecer ao figurino exterior, empenhado em destruir a sua identidade para construir um clone.
Fotografia de Parke Harrisson
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