A ESTUPIDEZ ESTATÍSTICAMENTE CORDIAL DOS LOCUTORES DE TV
Há medíocres com talento? Há estúpidos com brilho? Há, e são inúmeros. Aparecem todos os dias diante do cidadão médio, esse carneiro cordial e inofensivo disposto a acatar todas as ordens. Sorriem-lhe, acalmam-no, informam-no. Dão-lhe a ilusão do estado das coisas. Vigiam-lhe a temperatura do mundo. São os modernos gurus digitais: os locutores de televisão.
Com a mesma serenidade dizem que houve mil e duzentos mortos na China e que os bebés portugueses vão usar pulseiras electrónicas. Como na TV a mensagem é sempre divina, o facto é consumado imediatamente. Há que aceitá-lo, de imediato. Ordem santíssima dimanada do governo, essa Suprema Sapiência que labora pelo bem comum.
No caso recente da TV1 a informar sobre a pulseira electrónica destinada aos recém nascidos, o estilo neutro e vagamente apreciativo da locutora, em relação ao pavoroso facto, era corroborado com o testemunho de duas cidadãs de estupidez média garantida: uma parturiente, meio sedada, que sorria deitada junto do pé já com pulseira do seu bebé - apresentando a imagem forte As Mães Compreendem e Apoiam, e uma enfermeira, gorda, com ar eficaz e neurótico, que dizia que a princípio estava renitente mas agora compreendia.
E pronto com a ajuda de duas palermas úteis a TV implementou a pavorosa medida, consagrou-a, tornou-a indiscutível e, pior ainda, irreversível. Não há dúvida, que modernidade! que desenvolvimento! as nossas maternidades agora tem pulseiras electrónicas disponíveis para os recém-nascidos. Os exigentes deuses da segurança podem descansar.
Em duas penadas aparentemente sem dor, sob a capa da normalidade, introduziu-se o Princípio mais forte do Gulag a hiperidentificação: e louvou-se a prisão de máxima segurança em que os prisioneiros colaboram eficazmente.
2 Comments:
Viu o ar terno com que os locutores olhavam para as imagens de Bush a dizer que a economia estava bêbada?
Não vi. Mas posso imaginar. Dona Economia bêbeda? Dito pelo Bush?
As projecções jungianas nunca acabam. De certo modo as declarações dos políticos são puro teatrinho de projecções jungianas.
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