O PLANO INCLINADO
Eu em miúdo vivia dentro da caixa do correio o único lugar decente do meu prédio de miseráveis. De lá via o poente e injuriava o sol nascente. Nunca gostei do sol a nascer a não ser para lhe fazer figas e arremedos. o sol significava escola. a escola significava merda. enfim quando o meu pai enifava a mão pela fenda eu saía mais engomado que um linguado. ele penteava-me à estalada. Depois a gorducha da minha mãe rebolava pelas escadas abaixo espalhando o perfume barato Chanel numero 4 e metia as mãos nos meus bolsos para ver se eu tinha roubado dinheiro. geralmente roubava dinheiro com uma palhinha formidável, um aspirador que fez de mim o pedinte milionário que se sabe.
mesmo assim comecei a trepar para cima de arcos romanos e de ogivas de catedral. Se em Roma não cheira a loba é porque alguém no Plano Inclinado se esqueceu de meter uma casca de banana ao lado de um fígado de Orquídea.
da série Biografias à Faca (Vultos do Surreal)
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