OS ROBERTOS DA CÂMARA
Comunicado dos Ossos Que Brados do meu muito Querido Avô Dom Afonso Henriques:
Já estamos a ouvir uns apelos missionários para salvar Lisboa por parte do fornido rapaz Costa, que não deve ter engordado a comer restos de floresta ardida, e do jesuítico e espinhoso Negrão - só mesmo em Portugal se inventava um avatar do Pio XII assim para pôr por cima de uma jarra de manjericos - e um gordo transétnico, vindo direitinho dos livros do Gilberto Freire, e que tão bem fica ao lado do zé do bordalo.
No fundo, temos teatro de Robertos ao vivo, sendo um dos duelos principais entre o Bucha e o Estica, entre o Negróide e o Negrão, entre o que fugiu dos fogos e o transfuga de Setúbal. E ambos, um com sorriso sensodyne, o outro com um esgar de sorriso (porque não tem lábios, comidos pela sua severidade implacável) ameaçam recuperar a Câmara, devolvê-la à sanidade fiscal, e vão-se ouvindo as palavras fatais como "rigor".
O Bucha vem apoiado pelo Ayatollah dos advogados, o Maioral da terra pouco eficaz dos advogados - essa espécie de infelizes que só prosperam na razão inversa da desgraça dos outros - o José Miguel Júdice. Manifestamente a querer sobrar do seu blazer de capitão azul, o homem que tem boa pinta de fidalgo do século XVIII, não sabe o que há-de fazer ao lado do Bucha. Mas aparece como um aval. Uma pessoa padrão. Uma conta bancária de peso em forma de pessoa que está ali para dar seriedade ao Bucha. Além dele, temos o lendário Saldanha Sanches, o terror das mafias, o pequeno mas grande homem, de olho esperto, sabedor que está também ali a mais, num maio 68 com panos púrpura e tótó, cimentado, numa primvera de 61 na Reitoria de Lisboa, passada a ferro e a cheirar intensamente a naftalina. Ma che cosa fa, ó SS nessa descompanhia? Duas pessoas em que eu ainda acreditava. Francamente Saldanha, era melhor ter impulsos ducais, sonhar mais altos voos, ser D'Artagnan e não o third man do Sancho Pança.
Será que ambos sentiram impulsos espirituais de ordem diversa, por Lisboa e pelo novo partido autoritário, o PS, e ambos em posição de contra peso e aval se somaram ao Bucha Costa, de voz de barítono, hipnótica, treinada para dar um tom de Germinal e de Robespierre, de Santo Cura d'Ars e de Robert Fillon, lateral, à parada das vozinhas do choque tecnológico?
Vejamos os outros candidatos- Tendo por bom que Helena Roseta é uma mulher, ainda que evoque imediatamente um bulldozer, ou uma panzer division, de hormona mista, compactada num só heterónimo com vocação de borboleta partidária de todas as cores, que esperar de uma ziguezagueante Sra.Thatcher de esquerda-direita, iluminada pelo Espírito Santo há trinta e tal anos, para combater a injustiça? Bom será que cite Yourcenar, que lhe capte a essência com que ela vê que o poder é uma sexualidade suplente, um ersatz dela. E que só vale a pena tê-lo em pleno, porque há coisas que não se partilham como o carro, a caneta, o amante, e mesmo, devo dizê-lo a cidade.
O senhor doutor Portas, que grita a falar e martela muito com a mão e a sílaba, mais sábiá do que sabina, escolheu uma cambada de cueiros. Não se pode ser toda a vida um menino bem? Pois não, chega uma altura em que é preciso sair debaixo das saias do papá e das calças da mamã, e com voz grossa pedir um conhaque, francamente, e dizê-lo a toda a gente, mesmo diante do olho russo putineiro, e do jeito hipnótico dos olhos do galego, com sangue de aviador. Carrapetos me escumalhem, se escolher o nefável Telmo, com ar de magrebino aflito com a divulgação do seu QI secreto, não é uma parada de anti-génio? É livrar-se logo das moscas mortas, pedir-lhes martírio pela minha causa. Já é terrivel chamar-se Telmo: o que para ali vai, naquele subconsciente atarantado, de óperas de província, de livros de Minou Droet lidos em segredo, de borotalco Ausónia aplicado precisamente na mente!
Farfalhado pela nicotina - o enfisema tem muitas primas - o senhor doutor Monteiro depois de ganhar um lugarito ao Papão Gardénio Obscurobisness, lá no deserto mental da Madeira, apresenta o seu nó de gravata para um lugar na Câmara. Não há nada de estranho na condição, destino e vida dos ectoplasmas, estão sempre a aparecer, avatarizam~se, fosforescem daqui e dali, osmotizam-se, lançam um perdigoto cognitivo qualquer, como pátria, deus e família e pronto, o truque está feito, o tapete vermelho lançado. Lá veremos um montinho de monteiros elegendo raíz quadrada de menos um.
E que dizer dos escuteiros de Lenine, dos missionários do paraíso operário, dos testemunhas de jeová do barbudo Marx, que enganava a pobre da aristocrática Jenny com a sopeira? Esses ressentidos permanentes, com o brilho de pele peculiar dos burocratas tem o dom de parasitar eficazmente várias autarquias, e de ter um chicote manso e rotativo sobre as costas do bom povo, que leva sempre no cuzinho. O Ruben de Carvalho, no entanto, escapa ao estereotipo de santo comunista, com fervor profético na voz, de dedo enrijado no apontar da injustiça. Se fosse russo seria um aparatchik bon vivant. Já tem a rotundidade brejneviana, talvez seja um prazer beber vodka com ele e contar umas velhas piadas sobre os três pares de botas do Botas
Entretanto o Sócrates, um Maquiavel feito de lego, estica a perna disfarçadamente nos bastidores. Armou uma bela cilada ao país. Que se lixem os incêndios (e já não havia verba senão para dois helicópteros, e os aviões não estão comprados, e o novo juíz-ministro, de beiçola caída, que fugiu da Justiça já dá avisos de imperativo nacional e dever cívico e outras possidoneiras políticas que tais e conexas por cima das quais voam traças e se enroscam vermes) e que se lixe o Bucha! Mas, apesar da pernita marota, estendida para fazer cair o ideoso Bucha, o governo, nem sabe como emagreceu, com a saída do seu Otelo monhé e brâmane. Dantes, o governo só podia cair num só lugar. Agora vai cair em dois ao mesmo tempo. É o que dá não ler Séneca a horas nem se avisar com Parménides, nem perceber César nem o que é a deserção da sua girl-friend.
Não há dúvidas é que as pessoas que recentemente saíram de um partido para pouco depois enfileirar noutro, caso do senhor doutor pandita José Miguel Júdice, tem um ar transgénico, altamente embaraçado. Estão numa de estar numa de no man´s land, vivem ainda uma consciência ambivalente, não tem o olhar tranquilo, o processo de ruptura e de luto continua. Sente-se que nem dum lado nem doutro - sobretudo do lado a que chegaram, mas ainda não entraram - confiam inteiramente neles. Mas na política, as relações são milimétricas, descartáveis, sinuosas, efêmeras, medem-se poderes, não pilas. Contam-se votos, não se analisam ideias. Os políticos são todos rainhas más de Alice, com a cara fosfatada de boas intenções, com a mentira dourada. No fundo, a política é um jogo, de seduções, de passes, de plumagens, de belas sacanagens, borlas aos sócios, tiroteios escondidos, de perfídias venezianas, em suma, de punhais enterrados com um sorriso trácio, de permutas de lugar - um autêntico xadrez em partida múltipla para polichinelos em que é costume, mais tarde ou mais cedo todos acabarem com um enorme chouriço em vez do nariz.
(Por absoluta falta de tempo, não de simpatia, faltou-me escaqueirar o Sá Fernandes, o único que apesar de tudo me inspira alguma confiança) disseram as ossadas de D.Afonso Capet de Borgonha.
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