SLOGANS DE MAIO 68
Quase 40 anos depois estes slogans de Maio de 1968 metem tanto medo a Sarkozi que ele quer "matar o espírito de Maio 68". Deve-se dizer que também metem medo a Ségolene e a tous les bons bourgeois realinhados.
Sendo os espíritos evasivos, incorpóreos, pergunta-se que tipo de guilhotina usará o filho de emigrante, que arde de amores pelo seu novo país? Esse amor pelo seu país deve ser um desses amours à conditions porque goste-se ou não, tenha-se transformado em espírito ou em memória, Maio 68 faz parte integrante da história da França como um grande momento de jogo político e surreal. Mas para Sarkozi novo-rico do patriotismo é absolutamente blasfemo que os estudantes franceses do Maio 68 tenham ousado por em causa...TUDO.
Vejamos um dos mais famosos slogans que acabou dentro de casas burguesas e não só:
Il est interdit d'interdire
É proibído proibir.
É lindo! O mais antipolicial, antijudicial que se pode imaginar. Põe em causa, por exemplo, todos os países cheios de regras repressivas. Abre de par em par as comportas do ilícito, do transgressivo, do pensamento e do comportamento-fila. Esta frase é o terror dos bufos, dos gestores, dos correctos, dos sotainas e dos examinadores.
Dessous les pavés, c'est la plage ! Sob o empedrado, a praia.
Hoje diríamos, sob o asfalto, a praia!
Maravilhoso. Afirmar que a praia está debaixo dos nossos pés, que a cidade poderia ser paradisíaca e não um corredor penoso para as escravidões da rotina do trabalho-trabalho estoira com a espinal medula do sistema bancário, do socialismo capitalista, ou do capitalismo social sempre, como a religião, fundados sobre o espírito de sacrifício, de renúncia.
Soyez réalistes, demandez l'impossible ! Sejam realistas peçam o impossível.
Outro slogan em que o humor se junta à reinvindicação de todas as utopias. de todos os impossíveis. Uma frase que é uma chave para a saída do pensamento único.
Désirer la réalité, c'est bien ! Réaliser ses désirs, c'est mieux ! É bom desejar a realidade! Realizar os seus desejos é melhor!
As igrejas, as companhias de seguro, as reformas, os bancos, os próprios revolucionários adiam tudo para o futuro. Sacrifica-te agora para que gozes no futuro. Só que o futuro nunca chega. Esta frase assenta que nem uma luva a Don Juan Tenório, terror dos curas e dos comendadores. É sensual, aberta, afirma a saúde brilhante do desejo.
Les murs ont des oreilles. Vos oreilles ont des murs. As paredes tem ouvidos. Os vossos ouvidos tem muros.
Uma frase mais política e psicológica que aponta para os preconceitos interiores que impedem uma audição aberta.
Mettez un flic sous votre moteur. Meta um chui debaixo do motor.
Uma verdadeira máquina Patafísica. Aproveitamento total da energia dos chuis. A dialética do carburador e do quépi em acção.
Ici, on spontane. Aqui, espontaneiza-se.
Esta frase vem directa da fluidez, do encantamento da vivência de dias poéticos e sociais em que não havia o Partido a dirigir. Não havia quadros a traçar ordens. Não havia programa!
Le rêve est réalité O sonho é realidade
Uma proposição digna dos Vedas. A unidade, a realização plena. O fim do dualismo entre o sonho e a vigília. A incorporação das energias desejantes do sonho no tecido da realidade.
L'imagination prend le pouvoir. A imaginação toma o poder.
Não a razão, não a moral (o socialismo actual e a democracia cristã só falam de "pilares éticos". contrariando a imaginação considerada a doida da casa.), não a gestão, não o desenvolvimento, não a modernidade - em vez disso tudo e mais do que isso tudo: quem toma o poder é A Imaginação.
Plus jamais Claudel ! Nunca mais Paul Claudel. (Nunca mais Júlio Dantas!), seria uma tradução possível.
Claudel um poeta académico, confessional, católico, soleníssimo. Jogo de palavras com claudicar.
Ne vous emmerdez plus ! Emmerdez les autres ! Não vos chateeis mais! Chateiem os outros!
Digna de Groucho Marx, e de uma atitude irreverente.
Le mandarin est en vous O mandarim está dentro de vós.
É estupendo ser mandarim. É preciso acordar o mandarim interior.
J'ai quelque chose à dire, mais je ne sais pas quoi. Tenho algo a dizer, mas não sei o que é.
Um slogan anti-discurso. O desejo de dizer sem saber o que dizer. "os anos de pensamento "respnsável!, dirigido, progrmado, intencional e cartesiano pela pia abaixo.
Ouvrons les portes des asiles, des prisons et autres facultés. Abramos as portas dos asilos, das prisões e das outras faculdades.
A compreensão plena que as instituições todas são prisionais. O asilo da terceira idade, as prisões bem como as faculdades estão inscritas no registo carcerário.
Nous sommes des rats (peut-être) et nous mordons les enragés. Somos ratos (talves) e mordemos os raivosos.
Os ratos que nós somos não deixam de transmitir raiva, anulam-na.
Une révolution qui demande que l'on se sacrifie pour elle est une révolution à papa Uma revolução que pede que se sacrifiquem por ela é uma revolução do papá.
O espirito sacrificial totalmente posto em causa.
Laissons la peur des rouges aux bêtes à cornes ! Deixemos que os animais cornudos tenham medo das cores vermelhas.
Il n'y aura plus désormais que deux catégories d'hommes : les veaux et les révolutionnaires. En cas de mariage, ça fera des réveaulutionaires. Doravante só haverá duas espécies de homenes: os veados e os revolucionários. Em caso de de casamento, isso dará os reveadocionários.
Sempre a ironia, usando a estrutura do slogan para o tornar aberto, polissémico. Um slogam irónico em forma de falso dogma.
J'emmerde la société et elle me le rend bien ! Chateio a sociedade e ela dá-me troco!
Um ping-pong que não é propriamente um chá das cinco.
Ne prenez plus l'ascenseur ! Prenez le pouvoir ! Não tome o elevador! Tome o poder!
Recusa de concessão do poder a seja quem for exterior a si mesmo. Hoje me dia dir-se-ia empowerment.
Le pouvoir est au bout du fusil. (Est-ce que le fusil est au bout du pouvoir ?) O poder está na ponta da espingarda- (Será que a espingrada está na ponta do poder?)
L'humanité ne sera heureuse que le jour où le dernier capitaliste sera pendu avec les tripes du dernier gauchiste. A humanidade só será feliz no dia em que o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista.
Talvez o slogan mais ligado ao anarquismo populista do século XIX, o slogan mais velho, com uma carga violenta explosiva
Sendo os espíritos evasivos, incorpóreos, pergunta-se que tipo de guilhotina usará o filho de emigrante, que arde de amores pelo seu novo país? Esse amor pelo seu país deve ser um desses amours à conditions porque goste-se ou não, tenha-se transformado em espírito ou em memória, Maio 68 faz parte integrante da história da França como um grande momento de jogo político e surreal. Mas para Sarkozi novo-rico do patriotismo é absolutamente blasfemo que os estudantes franceses do Maio 68 tenham ousado por em causa...TUDO.
Vejamos um dos mais famosos slogans que acabou dentro de casas burguesas e não só:
Il est interdit d'interdire
É proibído proibir.
É lindo! O mais antipolicial, antijudicial que se pode imaginar. Põe em causa, por exemplo, todos os países cheios de regras repressivas. Abre de par em par as comportas do ilícito, do transgressivo, do pensamento e do comportamento-fila. Esta frase é o terror dos bufos, dos gestores, dos correctos, dos sotainas e dos examinadores.
Hoje diríamos, sob o asfalto, a praia!
Maravilhoso. Afirmar que a praia está debaixo dos nossos pés, que a cidade poderia ser paradisíaca e não um corredor penoso para as escravidões da rotina do trabalho-trabalho estoira com a espinal medula do sistema bancário, do socialismo capitalista, ou do capitalismo social sempre, como a religião, fundados sobre o espírito de sacrifício, de renúncia.
Outro slogan em que o humor se junta à reinvindicação de todas as utopias. de todos os impossíveis. Uma frase que é uma chave para a saída do pensamento único.
As igrejas, as companhias de seguro, as reformas, os bancos, os próprios revolucionários adiam tudo para o futuro. Sacrifica-te agora para que gozes no futuro. Só que o futuro nunca chega. Esta frase assenta que nem uma luva a Don Juan Tenório, terror dos curas e dos comendadores. É sensual, aberta, afirma a saúde brilhante do desejo.
Uma frase mais política e psicológica que aponta para os preconceitos interiores que impedem uma audição aberta.
Uma verdadeira máquina Patafísica. Aproveitamento total da energia dos chuis. A dialética do carburador e do quépi em acção.
Esta frase vem directa da fluidez, do encantamento da vivência de dias poéticos e sociais em que não havia o Partido a dirigir. Não havia quadros a traçar ordens. Não havia programa!
Uma proposição digna dos Vedas. A unidade, a realização plena. O fim do dualismo entre o sonho e a vigília. A incorporação das energias desejantes do sonho no tecido da realidade.
Não a razão, não a moral (o socialismo actual e a democracia cristã só falam de "pilares éticos". contrariando a imaginação considerada a doida da casa.), não a gestão, não o desenvolvimento, não a modernidade - em vez disso tudo e mais do que isso tudo: quem toma o poder é A Imaginação.
Claudel um poeta académico, confessional, católico, soleníssimo. Jogo de palavras com claudicar.
Digna de Groucho Marx, e de uma atitude irreverente.
É estupendo ser mandarim. É preciso acordar o mandarim interior.
Um slogan anti-discurso. O desejo de dizer sem saber o que dizer. "os anos de pensamento "respnsável!, dirigido, progrmado, intencional e cartesiano pela pia abaixo.
A compreensão plena que as instituições todas são prisionais. O asilo da terceira idade, as prisões bem como as faculdades estão inscritas no registo carcerário.
Os ratos que nós somos não deixam de transmitir raiva, anulam-na.
O espirito sacrificial totalmente posto em causa.
Sempre a ironia, usando a estrutura do slogan para o tornar aberto, polissémico. Um slogam irónico em forma de falso dogma.
Um ping-pong que não é propriamente um chá das cinco.
Recusa de concessão do poder a seja quem for exterior a si mesmo. Hoje me dia dir-se-ia empowerment.
Talvez o slogan mais ligado ao anarquismo populista do século XIX, o slogan mais velho, com uma carga violenta explosiva
2 Comments:
estes aforismos vão directamente enriquecer mais um espaço lá no blog, meu amigo, adorei todos e cada um. E encontrar-se-ão devidamente citados, com a respectiva vénia cortês. Vemo-nos em breve!
Os slogans foram tirados das paredes de Maio 68, escritos por mãos anónimas, mas lúcidas e irónicas. Sarkozi, que teme como o diabo a cruz esses tempos que ele, perversamente confunde com a queima de automóveis actual,quer dar cabo do espírito "soixante et huitard", que foi um sopro de frescura sobre a França dantesca (de Dantas).
Quer quer se concorde ou não com Maio 68, foi um período histórico que agitou como nenhum outro a França, e deve~se recordar que apagar e re-escrever uma pagina de história é sempre um acto totalitário, desintegrante, que lesa a memória das nações.
Veremos que novo Maio ele irá suscitar, mesmo que não seja em Maio.
Entao até breve!
Enviar um comentário
<< Home