/* PRIVILÉGIOS DE SÍSIFO 反对 一 切 現代性に対して - 風想像力

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2007-07-17

De vez em quando volto a ler Baudelaire e a absorver deliciado a sua qualidade fauve, decidida. Não faz filigrana nem é imperativo. A sua poesia eleva-nos sempre como o faz toda a palavra que tem poder, porque vem do vivido e do desejo mais puro - e assim toca na música. Eis as palavras de um Dyionisus contemporâneo:


É necessário estar sempre bêbedo. Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direcção à terra, deveis embebedar-vos sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embebedai-vos.

Charles Baudelaire, in Pequenos Poemas em Prosa



A primeira vez que vi esta versão traduzida em português, incluída nos Paraísos Artificiais, a tradução era do Saramago.
Traduziu o "il faut être toujours ivre" por "é preciso estar sempre embriagado." Desde então queria fazer um ajuste de contas com essa tradução. Claro que "s'enivrer" também se pode traduzir por embriagar-se. Mas em português só depois de ler Júlio Dantas alguém dirá "vou-me embriagar. "
Em italiano faria sentido, faz parte da linguagem popular camponesa e urbana. O bêbedo é o "briacho". Mas em Portugal só num chá de professoras tugas púdicas se dirá de alguém que "estava embriagado." Soa também a padre literário o "embriagai-vos!"

Por tudo isto parece-me evidente que a tradução mais justa do il faut être toujours ivre será "é preciso estar sempre bêbedo
."

Dyonysus, o modelo do bebedor excessivo e contínuo convivia com pastores iletrados e com ninfas dos bosques. Baco era acompanhado pelo gordo, excessivo, sensual e pançudo Sileno.

Não imagino uma dança dionisíaca conduzida por Nuryeev, Barshinikov ou outro qualquer dançarino de ballet. Há qualquer coisa de militar e de "demasiado salão ou teatro" no ballet para poder ser dionisíaco. A água excessiva da uva não dá também para movimentos regulados por anos de disciplina.

Em suma, a tradução do Saramago é ballet. Literariamente correcta e bichosa, é daquelas que tira o tendão ao bife, e branqueia o pão. Nascida no campo a orgia da bebida tem por força que ser rústica. Não vai com renda de bilros. Cheira a terra, a suor, a sangue - a tradução do Saramago era clinicamente correcta, pasteurizada. Uma dança debaixo de neón.




2 Comments:

Blogger Pedro Ludgero said...

Quando vivi sozinho, tinha este poema (em versão integral) colado à parede. Os meus convidados não ficavam nada bem impressionados...

5:44 da tarde  
Blogger Miguel Drummond de Castro said...

Durante uns tempos tive na parede (aliás nas paredes) o "Un Coup de Dés"...
Se as paredes falassem diziam poemas!

6:47 da tarde  

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