NEC SPE NEC METU
Não há velhas florestas nas cidades
por onde avançamos; nem vestígios delas.
As copas que tocaram nas estrelas
talvez, agora imateriais, roçem a fronte
dos que apesar de tudo no meio da passadeira
de peões, como um herói de Italo Calvino,
se elevam no ar e desparecem,
entre o bramido do neón e os fumos
bárbaros e primitivos dos escapes.
Não mais o uivo dos lobos e o chirrido
do grilo, perturbam os obedientes autómatos.
Cada telemóvel de cabelos brancos
inclui em si o seu túmulo e o seu epitáfio;
a floresta digital cresce a cada passo,
os evasivos rostos da era parecem-se todos
uns com os outros, chegámos a era
da multiplicidade unitária.
Que fizemos do corvo renitente,
da rosa divergente? Da seara aos tiros
num quadro de Van Gogh?
A arte ofende o Estado e o tecnocrata,
a poesia em todo o lado exilada,
cede o lugar às obras do burocrata;
prédios de vidro, parkings, semáforos,
e códigos de barras formam uma quadrícula despótica.
Chegou o tempo dos homens umbilicados
à tralha electrónica. Posto isto, entretanto,
atravessemos levemente a noite totalitária.
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