OS 11 DIAS DA CRIAÇÃO (NÃO FORAM SETE)
1.
Tenho substância:
evaporei-me!
de pés bem assentes no vento
caminho pelo poema
E a minha solidez é fluir
2.
Sou uma montanha
enchi-me
de mar distante
3.
Não meço nada.
aitrei-me para dentro
de duas gotas de sangue
sou Anel
4.
diante do abismo, sou garra
diante do nada, pluma,
e em Portugal sou isto:
o cavalo coriáceo da contra-rima
5.
as meninas que diante do mar
não são sereias
nunca saberão o que é flutuar
na imensidão
6.
7.
Moro num Lobo
e moro num cerro
Uivo as minhas cores
mesmo que não as queiram
8.
Sou filho da erva ruim
e da cristalina blasfémia
bebi a água errada
na estrada em que não devia
e ando sempre levando rosas
de enxofre
a Babel
e de lá trazendo
o Ouro da madrugada
9.
Cantar não canto
Uivo e balbucio
frágil como os canaviais
duro como os abutres
atiro com palavras pedras
às pombas brancas
sou um poeta
o predador do invisível
banho-me no sangue da lama
10.
o nevoeiro não é o meu véu
a asa sim
e o salto
11.
este é o dia inacabado
o primeiro de todos os meus dias
Tenho substância:
evaporei-me!
de pés bem assentes no vento
caminho pelo poema
E a minha solidez é fluir
2.
Sou uma montanha
enchi-me
de mar distante
3.
Não meço nada.
aitrei-me para dentro
de duas gotas de sangue
sou Anel
4.
diante do abismo, sou garra
diante do nada, pluma,
e em Portugal sou isto:
o cavalo coriáceo da contra-rima
5.
as meninas que diante do mar
não são sereias
nunca saberão o que é flutuar
na imensidão
6.
nunca ninguém ligou muito ao homem que andava com um poço às costas. Quando veio uma terrível seca, a da voz seca, das palavras secas e áridas, ele já se tinha desvanecido. Os poetas passam de perfil pela vida, os tolos e os barbachotes enchem as primeiras páginas. Mas são os primeiros que trazem a água e o sal, e as fontes divinamente malditas.
7.
Moro num Lobo
e moro num cerro
Uivo as minhas cores
mesmo que não as queiram
8.
Sou filho da erva ruim
e da cristalina blasfémia
bebi a água errada
na estrada em que não devia
e ando sempre levando rosas
de enxofre
a Babel
e de lá trazendo
o Ouro da madrugada
9.
Cantar não canto
Uivo e balbucio
frágil como os canaviais
duro como os abutres
atiro com palavras pedras
às pombas brancas
sou um poeta
o predador do invisível
banho-me no sangue da lama
10.
o nevoeiro não é o meu véu
a asa sim
e o salto
11.
este é o dia inacabado
o primeiro de todos os meus dias
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