CADERNOS DO PORCO ILUMINADO 2
TRATADO
DE
FILOSOFIA
EMPUFFADA
A isto chama-se um Imperativo Categórico : Um filósofo tem que ter um ar doloroso, de quem pinga pensamento a cada canto, e emite frases como " a sucessão dos objectos de percepção não invalida que cada um de per si seja apenas um objecto e não a essência de todos os objectos que se sucedem". É natural que depois de uma frase destas se lhe procure uma bossa na cabeça, donde saiem estas frases, estranhas e repelentes como pús. Talvez não seja má ideia o filósofo ser marreca, porque assim as pessoas terão paciência em ouvir estas suas frases complicadas, e mentalmente, pelo menos acariciar-lhe-ão a marreca, belo sítio para guardar o pensamento.
Deve vestir roupa que ridicularize o seu corpo - o corpo, tanto o dele como o dos outros, enquanto fôr possível fazer esta distinão, é um grande objecto ridículo para o filósofo. O filósofo tem que saber, de ciência certa, que por mais digno de ser serializado por meio dos atributos que definem o Belo, o corpo envelhece, emborbulha-se, apresenta nódoas negras, enverdece devido ao absinto e ao excesso de dietas vegetraianas, e por fim acaba numa posição divertida como um silogismo, ou seja, fica rígido, lívido e imóvel. Por isso, o filósofo astuto escolhe roupa que lhe fica curta demais, ou comprida demais, que já passou de moda há várias modas atrás, e não se preocupa com barba, que lhe cresce revolta, nem com o cabelo que ele próprio corta às três pancadas com a tesoura das unhas. Depois rise amargamente se lhe disserem que "compôs todo um tipo"
"Compus um tipo, eu? Ó homem eu vivo na verdade da corrente da consciência, no devir constante da percepção que a informa, e sendo assim e não doutra maneira, como quer que eu me fixe, num tipo? Num tique... Eu não tenho tipo nenhum, percorro-os a todos e não me demoro nem enraízo em nenhum. Não ouviu falar da impermanência?"
Nós já ouvimos falar da impermanência... por isso dizemos com toda a paciência ao filósofo: você constituiu-se como o tipo clássico de Diógenes que vivia sem roupa dentro de uma pipa de vinho vazio. Infelizmente, o filósofo, nessa altura e momento, perde rapidamente o fair-play, chocalha a bossa e a marreca, e chama a tropa. Os filósofos tem esse fraco: não o parecendo, adoram fardas poque lhes lembra ideias alinhadas, em parada, conceitos apresentando armas prontos a ser revistos e reinterpretados. Também gosta de pendões e bandeiras e estandartes. Não é a mente um campo de batalha e não é a luta de ideias a mais bela coisa desde a batalha de Solferino?
DE
FILOSOFIA
EMPUFFADA
A isto chama-se um Imperativo Categórico : Um filósofo tem que ter um ar doloroso, de quem pinga pensamento a cada canto, e emite frases como " a sucessão dos objectos de percepção não invalida que cada um de per si seja apenas um objecto e não a essência de todos os objectos que se sucedem". É natural que depois de uma frase destas se lhe procure uma bossa na cabeça, donde saiem estas frases, estranhas e repelentes como pús. Talvez não seja má ideia o filósofo ser marreca, porque assim as pessoas terão paciência em ouvir estas suas frases complicadas, e mentalmente, pelo menos acariciar-lhe-ão a marreca, belo sítio para guardar o pensamento.
Deve vestir roupa que ridicularize o seu corpo - o corpo, tanto o dele como o dos outros, enquanto fôr possível fazer esta distinão, é um grande objecto ridículo para o filósofo. O filósofo tem que saber, de ciência certa, que por mais digno de ser serializado por meio dos atributos que definem o Belo, o corpo envelhece, emborbulha-se, apresenta nódoas negras, enverdece devido ao absinto e ao excesso de dietas vegetraianas, e por fim acaba numa posição divertida como um silogismo, ou seja, fica rígido, lívido e imóvel. Por isso, o filósofo astuto escolhe roupa que lhe fica curta demais, ou comprida demais, que já passou de moda há várias modas atrás, e não se preocupa com barba, que lhe cresce revolta, nem com o cabelo que ele próprio corta às três pancadas com a tesoura das unhas. Depois rise amargamente se lhe disserem que "compôs todo um tipo"
"Compus um tipo, eu? Ó homem eu vivo na verdade da corrente da consciência, no devir constante da percepção que a informa, e sendo assim e não doutra maneira, como quer que eu me fixe, num tipo? Num tique... Eu não tenho tipo nenhum, percorro-os a todos e não me demoro nem enraízo em nenhum. Não ouviu falar da impermanência?"
Nós já ouvimos falar da impermanência... por isso dizemos com toda a paciência ao filósofo: você constituiu-se como o tipo clássico de Diógenes que vivia sem roupa dentro de uma pipa de vinho vazio. Infelizmente, o filósofo, nessa altura e momento, perde rapidamente o fair-play, chocalha a bossa e a marreca, e chama a tropa. Os filósofos tem esse fraco: não o parecendo, adoram fardas poque lhes lembra ideias alinhadas, em parada, conceitos apresentando armas prontos a ser revistos e reinterpretados. Também gosta de pendões e bandeiras e estandartes. Não é a mente um campo de batalha e não é a luta de ideias a mais bela coisa desde a batalha de Solferino?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home