A ARMA DE DUPLICAÇÃO MASSIVA
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A relação do último século com o espelho, objecto que na sociedade feudal era raro e só possuído por mulheres da nobreza, foi extraordinária: nunca antes tanta gente se vira todos os dias com tanta objectividade à procura de uma perfeição possível da aparência.
Mais do que o automóvel o espelho foi o veículo de transporte do passado século: transportou as pessoas para as suas réplicas, inaugurou o culto da imagem, reforçou sem dúvida a consciência do ego, e tanto feriu o narcisismo como incensou a vaidade. Por isso, mais do que o botão, o espelho devia ter o Prémio Nobel. Tornou o homem dual, vigiado pela sua imagem. Promoveu a ditadura do duplo.
Assim o século passado, graças à divulgação maciça do espelho, e à disseminada prática especular, foi o século do Narcisista Prático.
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