HISTÓRIA AMARELA
Uma pulga estava cheia de cães e passava a vida a coçar-se e a tirá-los. Mas eram tantos que passou assim a vida inteira. Antes de morrer deu um último salto em direcção ao azul mas a vida engoliu-a sem reparar nela.
Por acaso o contador de histórias amarelas passava ali nesse preciso momento. Quando viu uma série de cães azuis a voar em direcção às estrelas ficou muito irritado. Aquela visão não estava mesmo nada nos seus planos. Achava que era perigosa e optimista. Olhou para baixo e viu a sua canela ossuda e também amarela. Era ali que ele escrevia todo o mal que via.
Mas os olhos nesse instante caíram-lhe ao chão. Uma moça gorda tinha-o empurrado distraídamente. Vinha a lamber um sorvete e com uma mansa brutalidade ia atropelando as pessoas porque era gulosa e distraída. Virou-se para trás e viu um homem com dois buracos no lugar dos olhos e disse: Engraçado os bonecos que eles agora perdem nas ruas.
Agarrou o homem pela mão e arrastou-o pela rua. Do peito do homem não saía grande coisa: lesmas, sete tipos de vazio tibetano, um apara-lápis em mau estado, os pensamentos do Sr. Vespa. Mas das canelas saía um rasto enorme que ia cobrindo o mundo a pouco e pouco.
Ela virou-se para trás e disse: engraçado como as cidades hoje em dia desaparecem sem ninguém dar por nada. Mal acabara de dizer isto foi engolida pelo último espasmo da pulga.
Desenho de Frederico Fellini
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