PARABOLINHA DE UMA MULHER MODERNA APRISIONADA NA MODERNIDADE
Que horror a colecção do Berardo.
Ela chegou a casa transformada numa luva de borracha.
Depois de muito procurar encontrou o telefone dentro do cão.
Sempre que te vejo tenho que pôr um escanfandro, disse. Queria gaguejar com elegância como Mistinguett, com pérolas negras a sair da boca, mas deu um berro formidável.
Uma mulher sózinha pode berrar mais que toda a Alemanha.
O berro ouviu-se noutros andares. Foi confundido com avionetas, bulldozers, black and deckers.
Visto isso, perfumou-se com um disco antigo dos Rolling Stones.
Foi à janela sentir a velhice das casas modernas, todas alinhadas, despediu-se de todas as antenas parabólicas.
Encontrou dentro de si uns ossos. Roeu-os, e deitou-os contra a parede para ver o que dava.
As portas etéreas da parede abriram-se, esplendorosas sobre o nada de novo.
O que me está a acontecer é que saí depressa demais do Aquário. Era verdade. Não se deve sair depressa demais do Aquário.
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