DA ARTE DA INIMIZADE
É sempre melhor um bom inimigo do que um mau amigo, com o primeiro pode-se contar sempre.
Odeia-se mal em Portugal, aos sacões, com arrepelos, uma coisa muito convulsiva: nada daqueles ódios finos, frios e florentinos.
O ódio não é só um amor ao avesso, é também uma paixão intensificada.
A seguir ao amor vem o ódio. E como estamos em terra de amores mornos seguem-se mornos ódios.
Chocar de frente com o nosso inimigo e estender-lhe na mão uma bela bala branca? Geralmente neste país pacatinho, de espias e arroz doce, muda-se de passeio ao avistá-lo, e diz-se mal dele pelas costas.
O desporto nacional é a maledicência. Pelas costas, pela calada, durante horas saborosas.
Os republicanos dizem mal da monarquia, os monárquicos da república. Ambas continuam más e insanáveis. Há algo de podre em todas as instituições em Portugal, é certo. Só fomentam ódios moles.
Entre os ovos moles e os ódios moles não há grande diferença: ambos tem açúcar a a mais.
Nunca ninguém, das novas escritoras dos dois sexos, falou do amor com asco.
O instinto de amar tornou-se tão artificial como o de odiar. O melodrama, o arrebato palavroso, o sentimento de posse e um ciúme canino passam por amor aos olhos de milhões de portugueses, anões no sentimento e na vida própria.
Os grandes ódios também são pentecostais: elevam a alma até à região das grandes intensidades,
Pedro odiou nobremente e com paixão os três assasinos de Inês. Cada um teve um tratamento diferenciado, um assassinato com estilo. A um foi-lhe arrancado o coração pelas costas e comido...
Afonso Henriques terá odiado mais a mãe do que mais tarde os portugueses as terras de Espanhas.
Os amores infantis são actos de propriedade, os de ódio de furacão.
A terceira idade, a terceira idade! a maior parte da gente nem à primeira chegou.
A idolatria pela juventude envelheceu-a espantosamente.
Imagem: Garrafa de Glennfidich com um escocês vestido com um kilt do clan Drummond de Stobhall
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