A VOZ ENCANITANTE DA MELGA POLÍITICA
Desde que os políticos deixaram de ler Shakespeare ou um dos seus leitores duplos, como Borges, as suas ficções não alimentam nenhum futuro, apenas produzem repetição.
A voz do actual primeiro ministro de Portugal mais do que um tratado de patologia, é um virus em acção - leva à surdez ou ao riso louco.
Donde sai essa voz? Da barca dos loucos de Peter Breughel? do tríptico de Hieronimous Bosch? Ou do nosso teatro de robertos interiores?
Mas o pior não é que essa voz fale, é que a alguém a ouça e tome como normativa.
Histérico-esganiçada seria uma descrição aceitável dessa voz, mas é mais: tem uma pequena dose de hipnotismo, e apoia-se na veia sarcástica primitiva, a que vem dos romanos.
Um músico diria que está fora de tom. Não há dúvida que está. Perigosamente rachada, é a voz própria do pregador fanático. Assim, com este tom, pregavam os monges que imitavam Savonarola. É a voz que atiça as fogueiras.
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