ela estava a dizer: é interessante
como os tempos que correm são desinteressantes
crianças tontas como sempre atravessam
os pátios das escolas coladas aos telemóveis
pais egoístas e banais gritam
e crucificam cøm gestos lógicos e higiénicos
os gatos
mas algo rói as fachadas por dentro
um mal estar insidioso atrás de cada sorriso
quando chego a casa horrorizo-me com os meus filhos
que trouxeram anões e nematelmintos
será que somos todos os monstros de quem fugíamos?
abro a porta do frigorífico
como se abrisse a porta de uma grande cidade
lá dentro estão perfilados e podres
vários soldados romanos
fujo com um grito entalado na garganta
o corredor da minha casa é uma ponte suspensa
entre o abismo dos dias e o abismo das noites
abrimos as janelas sobre parkings
as árvores apitam, estão descontroladas
vão cair sobre os nossos túmulos portáteis
ninguém se importa, ninguém quer ouvir
ninguém quer saber: estamos no tempo
dos egoísmos blindados
ela disse que é interessante
viver no meio dos mortos acordados
fodem fungam fogem pelas portas
sempre em bichas ordenadas
fazem filhøs e monumentos
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