O NOVO DAMASTOR
1.
Não tenho mais mundo
para o mar,
diz Portugal ao Nevoeiro,
antes de levitar naquela
sibilina solidão
em que os Reis se cravam
na palma de cada mão
2.
O Novo Damastor
encalha diante das damas
mas com estilo
porque há uma graça
doída e imensa
nisto de perder caravelas
sem licença
3.
encolhida estrela,
dilatada fama,
gato sem fotógrafo,
garra viúva-
O rio sujo
como os dias
ao contrário
4.
tenho que saber viver
numa terra de cabeças
cheias de areia movediça
mas preferia
sentado no dorso do caimão
andar pela via láctea
na contramão
5.
os tempos andam irreais
e as pessoas urinárias
dantes fedia a Bode
agora a gasóleo e treva
mudemos, portanto, os véus
dos Invisíveis
numa dança de insultos
entre as sílabas abandonadas
6.
Luz na Luz, ouro no ouro,
tudo o que digo tem a força
de um potro novo -
não são minhas as fadigas
doloridas, de cinco séculos
de faquistas e contorcidos
salmos, podres de alma
7.
Dos Reis altivos, com força
na verga, tenho o rosto
impresso na alma
O resto desgraçadas
asas que ainda se alevantam
com o vento dos fundos:
nós rasgadores de mundos
8.
Do voo imóvel nada sei
mas contorno a Fonte
das palavras, subo na novas
nuvens de inconhecimento
Deus, rosa carnívora,
Punhal, o único nefelibata
primitivo
9
Trota a víbora,
Torto, toca o sino
O mundo desfaz-se
a cada instante
O bronco dilatar
do ar rompe o relâmpago.
Somo luzes sacrílegas.
10.
Tu que és vento
eu que sou pedra e vidro
hoje lutamos
nas altas correntes
do não pensamento
11
Diante de um poeta a valer
ou seja falido e forte,
mas nunca mal fodido
as mulheres tem um só dever:
serem maravilhosas
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