A VAIDADE DO PÚBLICO
Muito se tem falado sobre o ego e o narcisimo e a vaidade dos actores. São de resto indispensáveis. Uma pessoa que adopta sucessivas personalidades, tem que sentir vaidade nisso. É um feito enorme, só dado a semi-imortais, ser outro. Entretanto, para que um actor subsista sem nenhuma personalidade definida tem que ter um narcisimo à prova de bala. O ego também é indispensável para que o actor recorte e vinque as suas personagens com oxigénio, ruído e aquele a mais de uma presença forte.
Isto tudo não é lá muito novo nem original (sendo que o novo nem sempre, ou mesmo raramente, é original), Mas seja como for, nunca se fala da vaidade do público. E se há públicos vaidosos! O do Scala de Milano, por exemplo, tem vaidade no seu teatro, que parece um navio almirante todo em dourados, e nos seus actores e em si mesmo, porque ele decide. Decide várias coisas, o bom tom da roupa que se leva, o futuro da peça, o sucesso dos casos amorosos públicos e notórios que se dão a ver nos intervalos e durante.
Também no teatro de São Carlos o público, por seu turno, é um actor de primeira grandeza doutra peça fora da peça, a da comédia social. E sabe bem que vai ao teatro por vaidade, para ver e ser visto e "estar a par" com o que possa haver de novo e original, e não menos importante, para ter algo de que falar e poder dizer "eu estive lá". De resto a história, a política e o teatro só tem sucesso se souber tornar seu íntimo e confidente o seu público.
É esse o segredo das grandes gueixas, dos actores, das grandes damas e mesmo dos porteiros de discotecas, que são um pouco de tudo isso: confiar absolutamente, sem transigência nem falha de continuidade, na vaidade do público.
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