A OPINIÃO DOS FLAMINGOS
Ontem - exercício abjeccionista puro - vi a segunda parte do Prós e Contras. Fátima, a possante locutora "de olhos nos olhos", está mais gorda e mais marechala. Goza o seu poder no meio dos anões que regularmente convida. Qualquer dia vê-la-emos de chicote. De preto já anda, só lhe falta o couro, as cadeias, as cordas.
Os anões desta vez eram uma série de engenheiros típicos e poderosos, juntos com um economista, chamado Mateus, pequenino, de fato cinzento, boca ríspida, com ar de sacerdote luterano. Tratava-se de debater o melhor local para a projectada Terceira Ponte sobre o Tejo. Àparte o arquitecto Tudela, que com razão contestou o exagero da massa da ponte (Beato ou Chelas outra margem) que reduziria, como decerto reduzirá a abertura do Terreiro do Paço a um ridículo buraco sem grandeza, ninguém se lembrou de dizer que a ponte, sobretudo demasiado próxima de Lisboa, se calhar não era oportuna nem necessária.
A demagogia do facto consumado impera no nosso país. Em menos de um mês decide-se uma ponte, um aeroporto, uma cidade aéro-portuária e a uma margem sul completamente desordenada atira-se-lhe por cima, de repente, um aeroporto, nós rodoviários, passagens de alta velocidade para comboios, projectos sem fim. O LNEC tem um mês ou dois para bolsar cá parta fora o sim. Parto mais do que prematuro! O resultado será concerteza uma daquelas casitas a do novel engenheiro - em formato estelar, cósmico, agigantada, cheia de pressa. Ou seja um entrouxo monumental, um revolvimento espasmódico da outra margem.
A Outra Margem é um caco, um caos, uma pocilga, uma aberração humana e metafísica. O grau de fealdade dos últimos 30 anos destruiu o que era um belo sítio. Devia ser proibído morar lá. Percebe-se o estado de espírito, depressivo, de quem mora lá. A Outra Margem é uma área imensa cheia de arquitectura doente, governada por cabeçóides, cabecinhas e cabeçorras emperradas ao serviço dos patos-bravos.
Da Outra Margem estavam presentes os autarcas do Barreiro, de Setúbal e sei lá do Seixal e companhia - aprendizes de Isaltino, com um discurso polinucleado. Não invento, o presidente do Barreiro quer um centro citadino aglomerante e polinucleado. Uma cidade estrela do mundo global que aí vem. Ou seja, um linfoma de cimento, cheio de núcleos de alumínio, com ar condicionado, de crescimento imparável.
A tónica por que todos alinhavam é que Lisboa tem que ser um centro internacional, "virado para o mundo", uma cidade de prestígio. Sempre o mesmo complexo provinciano de não estar em paz com a escala que se tem. Querem uma mega cidade, em que o rio não seja um "separador" mas um "traço de união". Tenho pena que não haja engenheiros capazes de aumentar o rio Tejo e transformá-lo num adriático. Esta retórica choramingueira e fraternalista de ter um rio traço de união, um obstáculo que urge ultrapassar, crivando-o de pontes, para ter uma cidade de dimensão mundial, polinucleada ,como diz o visionário do Barreiro, é de péssimo augúrio. O rio reduzido a poça, a sua magnífica dimensão achatada. Um rio Sena qualquer ou um Tamisa em vez de um grande rio diante de uma cidade aberta.
Um engenheiro chamado Mota, do Porto, de ar carrancudo, que fiquei a perceber era um mega Cardeal da raça engenheira, advogava a vantagem de termos que andar depressa e transformar os nossos portos, torná-los mais competitivos, para servir Madrid, a Galiza, as Espanhas. O homem, consternado, não percebia porque há tanta demora em nos precipitarmos com comboios de alta velocidade e portos pletóricos e competitivos, cheios de valências, a fim que a mercadoria provinda do mundo, da China, dos países do Iberismo transatlântico chegue a Madrid depressa e em força.
Já cá se sabia : a Espanha quer-nos pôr a pata em cima de todos os modos. Portugal, lacaio económico cumpridor, dá o cu e mais cinco tostões e quer os seus portos, já e em força, desenvolivdos para que siga tudo para Espanha e para a Europa. Tem, salvo homrosas excepções, praticamente toda ordem dos engenheiros a favor - Meus caros: horroroso futuro à vista: Portugal país de serviços, os sopeiros portuários da Europa! Além de empregado de mesa do turismo internacional.
Indignavam-se as hordas de engenhocas com frémitos e aflatos desolados por Espanha já ter TGVs em número suficiente e nós, pobrezinhos, deserdados do progresso e do desenvolvimento ainda não! Como é possível termos vivido tanto tempo sem TGV? De facto foi possível. De facto seria perfeitamente possível, tivéssemos brio e identidade própria. Mas a identidade que temos é simiesca, psitacística, temos que imitar o outro - acompanhar a Europa. E eu chamo a isto identidade de imitação, servidão solícita.
Presente na audiência o Chefe dos Promotores Imobiliários, chamado Azeredo Perdigão, como lhe competia, branqueou tal seita, dizendo que não, os Promotres não especulavam com terrenos, e tornou assim a seita numa cândida ovelha que só pensa no bem comum e na melhoria de vida do cidadão. Outro dirigente máximo dos empreiteiros, um Bispo-empreiteiro, à pergunta razoável da Marechala Fátima : porque se construiu tanto e com tão mau gosto por todo Portugal nos últimos 40 anos, escusou-se dizendo que os empreiteiros apenas seguiam os planos. Desculpa que lembra a dos executores nazis em Nuremberg a dizerem, a propósito das chacinas de judeus " nós só cumpríamos ordens".
Assim quais outros cordeiros imaculados, os empreiteiros, pela voz deste senhor com barba de tribuno da primeira república assim lavaram as mãos de mais de 40 anos de contínuo pesadelo empreiteiral que transformou parte do país numa lixeira visual, riso de toda a Europa, que não consegue perceber como transformámos um país com beleza numa coisa amorfa com marmorite.
Não podia deixar de aparecer o Porto de Sines. Numa metáfora colada a cuspo a Generala com cára de homem que dirige os destinos de tal "Placa Transatlântica", disse que não, que aquilo não era um elefante branco, porque estes agora tinham um parque chamado Badoca. Esta metáfora de oráculo sapiente passou desapercebida porque quase ninguém sabe o que é o parque da Badoca, onde infelizes animais exóticos como palancas e tigres são compelidos a fingir que estão na natureza africana no meio de pinhais.
Para este Porto de Sines agora dsesenha-se à sua frente um vortex, uma bulimia, uma guloseima de comboios e navios de supercontentores, uma autoestrada naval que vem do OPrientye das Américas - depois ligados, com "vertentes e valências" a Espanha, à Europa. Mega autoestradas de passagem de Tires estão previstas, grande linhas férreas a ligar com Madrid. Vem aí a China! Portugal com a sua costa de águas profundas vai ser um gigantesco parque de estacionamento para super-navios de contentores provindos de Singapura, da China, do Oriente Mínimo e Mdo áximo - Que festim! vamos encher-nos de dinheiro, sem dúvida. Tudo irá parar à Europa e à voraz Madrid cuja insaciável apetência pelos Portos da nossa Costa não pára de crescer. Ricos como Cresos, no entanto, não há bela sem senão, haverá aquilo que a bela língua engenheiral chama de lateralidades negativas: os impactos negativos de obras de tal monta: ficaremos sem praias. Coisa de somenos, haverá dinheiro para fazer piscinas carregadas de desinfectante. A ASAE velará.
Mas isso, as praias, que importa, o engenheiro- Cardeal Mota, do Porto, carrancudamente batia na mesma tecla: Depressa! depressa!
O homenzinho quer que se possa chegar depressa e está muito irritado com seja quem for que o contrarie. Ai dos que não gostem da lentidão!
De facto, a ideia de chegar depressa a todo o lado indica soberanamente que há aqui uma impaciência imensa em curso. Já não haverá viagens lentas, saborosas, possíveis. carrega-se no botão e hop! já estamos no ponto de chegada. Esta ideia falaciosa que ser moderno é chegar o mais depressa possível terá que ser cuidadosamente revista. Portugal está doente de pressa em chegar, sem sequer querer saber que está a chegar a um passado ultrapassado, o do desenvolvimento a qualquer preço.
O que ontem se advogava, no fundo, era a crucifixão do rio Tejo.
O aeroporto e a ponte são duas formas de expancionismo típico do cancro.
PS : Sublinhe-se a linguagem engenheiral cheia de "vertentes", "valências", "componentes", "eixos", "placas" , "núcleos" . Tem uma aparência racional, sem dúvida, não tem é substância e esvazia a realidade que assim não passa de um apêndice descartável no estirador ou no ecrã.
Foto de Parke Harrisson
1 Comments:
:)
MAGNIFICO!!!!!!!
_____________________. o post.
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