PEDIDOS DE EMPREGO (Curtas e verídicas histórias com H) - II
Na Escola de Línguas Universo onde eu - poliglota semi-profissional fui propôr os meus serviços - o director, o dr Flórido Parsifal Smith, um homem de maxilar possante, cova hirsuta no queixo, tinha um olhar magnético e perfurante o qual, depois de uma rápida inspecção ao meu vestuário de circunstância, um fato completo de burocrata eficaz, aprovado com um hum! se cravou logo no meu bigode de pontas longas, taoísta( eu andava a ler Lao Tzu e sem acção da minha parte o meu bigode assemelhava-se a cascatas de água a cair da cordilheira) e percebi que isso o incomodara bastante.
A verdade é que aprovada sem hesitações a minha forma de vestir, modesta e digna de um católico luso, em cinzas meritórios e low profile, onde apenas uma camisa azul (emprestada pelo Jacinto Telles de Menezes) punha uma nota minimal de dandy corrente, o Dr. Flórido Parsifal Smith não estava a achar graça nenhuma ao bigode. Assim, um pingo de fel apareceu-lhe na cova do queixo. Verberava-me, o pingo e o seu olhar hipercrítico de nativo do signo da Virgem com ascendente Balança fuzilava-me.Via-se logo que ele me estava a ver como um freak, que desviaria a atenção dos alunos com aquelas exibições imodestas de pilosidade imprópria. O seu olhar, misto de inspector ASAE da aparência e raio laser, no entanto, ia além das pontas flutuantes do bigode e esquadrinhava os recantos mais inacessíveis da minha alma, onde existe uma cama de rede entre duas bétulas e no chão um garrafão de medronheira ilegal, provindo directamente da altiva serra de Monchique. Ah? disse ele com um ar reprovador ao descobrir o triângulo de Osíris da minha clandestina preguiça e ao vislumbrar o garrafão com o precioso viático. Como é que o senhor se descreve?
Ao ouvir aquela pergunta armadilhada e clássica que vem em todos os compêndios de Ganhe Todas s suas Entrevistas de trabalho, no entanto, perdi o contrôle sobre mim mesmo e num acto indecente de inocência espontânea disse-lhe a verdade:
Sou um sem-abrigo do pensamento por isso não penso ao abrigo de nenhum sistema ou corrente- disse-lhe de uma só assentada. Antes de acabar a frase já me arrependera mil vezes de a ter dito e assim a minha perna direita começou a dar uma série avulsa de fortes caneladas na perna esquerda, tão fortes e inesperadas que me pus a uivar e disse Scheisse! em várias línguas. além doutros palavrões compostos todos começados pelo férvido e sibilante "F".
Para meu espanto o Dr. Flórido Parsifal Smith ergueu-se com a careca brilhante, fazendo cair para trás a sua cadeira, e com os olhos alegres e cúmplices estendeu-me uma mãozorra honesta, firme e peluda ao mesmo tempo que me dizia entusiasticamente: Pode-se apresentar amanhã mesmo no Sector B!
Estive quase para aceitar tão inusitada proposta, porém, num relance vi que a minha cama de rede estava na sua manápula esquerda, por isso dei o berro de Shangri-La (provindo do fundo do Hara) e saltei sobre a mesa para lha arrancar das mãos. E confesso que suspirei de alívio ao surripiá-la de volta e ao ver pela expressão negra da sua cova no queixo que eu nunca me apresentaria no Bloco B.
A verdade é que aprovada sem hesitações a minha forma de vestir, modesta e digna de um católico luso, em cinzas meritórios e low profile, onde apenas uma camisa azul (emprestada pelo Jacinto Telles de Menezes) punha uma nota minimal de dandy corrente, o Dr. Flórido Parsifal Smith não estava a achar graça nenhuma ao bigode. Assim, um pingo de fel apareceu-lhe na cova do queixo. Verberava-me, o pingo e o seu olhar hipercrítico de nativo do signo da Virgem com ascendente Balança fuzilava-me.Via-se logo que ele me estava a ver como um freak, que desviaria a atenção dos alunos com aquelas exibições imodestas de pilosidade imprópria. O seu olhar, misto de inspector ASAE da aparência e raio laser, no entanto, ia além das pontas flutuantes do bigode e esquadrinhava os recantos mais inacessíveis da minha alma, onde existe uma cama de rede entre duas bétulas e no chão um garrafão de medronheira ilegal, provindo directamente da altiva serra de Monchique. Ah? disse ele com um ar reprovador ao descobrir o triângulo de Osíris da minha clandestina preguiça e ao vislumbrar o garrafão com o precioso viático. Como é que o senhor se descreve?
Ao ouvir aquela pergunta armadilhada e clássica que vem em todos os compêndios de Ganhe Todas s suas Entrevistas de trabalho, no entanto, perdi o contrôle sobre mim mesmo e num acto indecente de inocência espontânea disse-lhe a verdade:
Sou um sem-abrigo do pensamento por isso não penso ao abrigo de nenhum sistema ou corrente- disse-lhe de uma só assentada. Antes de acabar a frase já me arrependera mil vezes de a ter dito e assim a minha perna direita começou a dar uma série avulsa de fortes caneladas na perna esquerda, tão fortes e inesperadas que me pus a uivar e disse Scheisse! em várias línguas. além doutros palavrões compostos todos começados pelo férvido e sibilante "F".
Para meu espanto o Dr. Flórido Parsifal Smith ergueu-se com a careca brilhante, fazendo cair para trás a sua cadeira, e com os olhos alegres e cúmplices estendeu-me uma mãozorra honesta, firme e peluda ao mesmo tempo que me dizia entusiasticamente: Pode-se apresentar amanhã mesmo no Sector B!
Estive quase para aceitar tão inusitada proposta, porém, num relance vi que a minha cama de rede estava na sua manápula esquerda, por isso dei o berro de Shangri-La (provindo do fundo do Hara) e saltei sobre a mesa para lha arrancar das mãos. E confesso que suspirei de alívio ao surripiá-la de volta e ao ver pela expressão negra da sua cova no queixo que eu nunca me apresentaria no Bloco B.
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